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Apesar de não terem uma Praça Tahrir (Praça da Libertação) e de estarem agora nas mãos do exército, milhares de bareinitas protestaram nesta sexta-feira na cidade de Sitra, dando adeus aos três jovens mortos nessa quinta-feira durante a repressão policial a um movimento pacífico contra o regime em Manama. Gritando "O povo quer a queda do regime" ou "Morte aos Al-Khalifa", a família real, a multidão marchou por horas no centro desta cidade xiita na periferia de Manama, onde foram enterrados três dos quatro manifestantes mortos na quinta-feira por policiais na Praça da Pérola, apelidada de "Praça da Libertação" pelos manifestantes.

Avançando lentamente, a multidão acompanhou cada um dos três "mártires" em uma procissão que acabou se transformando em um verdadeiro movimento político. "Na Praça da Pérola, vocês impuseram suas vontades às autoridades, que tentaram lhes reprimir com violência", lançou o militante islâmico Abdel Wahab Hussein, antes de acrescentar que a repressão é "a prova do colapso do regime". Falando para a multidão através de um megafone, ele enumerou as reformas políticas reivindicadas pela oposição, antes de destacar que "o ministro do Interior e os dirigentes que deram a ordem de atirar contra os manifestantes na quinta-feira deveriam ser julgados".

"Enquanto vivermos, não esqueceremos jamais o sangue dos mártires", respondeu a multidão, de forma sincronizada e organizada. Agitando a bandeira vermelha e branca de Bahrein, oradores tentavam não dar dimensões confessionais à procissão, entoando um slogan que ficou popular nos últimos dias no país: "Nem xiitas, nem sunitas. Unidade Nacional".

"Não se lamentem. Não batam no peito. Hoje é um dia de alegria e dignidade", insistiu um deles, referindo-se a um dos gestos de luto dos xiitas. Tirando proveito da presença de inúmeros jornalistas estrangeiros, principalmente dos ocidentais, "voluntários" se mobilizaram para servir de interpretes ou para explicar "a injustiça" que sofrem os xiitas em Bahrein – grupo étnico majoritário em um país governado por uma dinastia sunita. "Peço aos irmãos sunitas para que sejam solidários, pois, um dia, eles podem ser as próximas vítimas" do regime, declarou Ahmed Moumen, após ter convidado representantes da imprensa a ver, antes do enterro, o corpo de seu filho, Ali, 22 anos, com vários ferimentos.
"Não protesto porque tenho fome, mas pela dignidade e para dividir o poder com os Al-Khalifa", explicou Ali Abdel Jabbar Hassan, que participou dos funerais. "Senhor Ecclestone, será que vale sacrificar nossas vidas pelo prêmio de Fórmula 1?", proclamava uma faixa agitada por jovens, à frente do cortejo.

Bernie Ecclestone é o grande chefe da Fórmula 1, cuja temporada 2011 deveria começar no dia 13 de março, no circuito Sakhir de Bahrein. "De manhã, o rei lamenta as mortes; a noite, nos ataca", esbravejou Jaafar Abdel Hussein Mohamed, um aposentado da companhia local de Alumínio, Alba. Ele se referia à decisão do rei, o xeque Hamad ben Issa Al Khalifa, anunciada na terça-feira, de formar uma comissão de investigação para apurar as mortes de dois manifestantes, mas que, dois dias depois, foi seguida pelo ataque à Praça da Pérola.

Líbia

Quatorze pessoas morreram na quinta-feira nos confrontos entre as forças de segurança e manifestantes que protestam contra o regeme de Muamar Kadhafi em Benghazi, segunda maior cidade da Líbia, segundo um novo balanço enviado nesta sexta à AFP por fontes médicas locais. "Chegamos a um total de 14 manifestantes mortos", indicou a fonte, que pediu o anonimato. Uma contagem da organização Human Rights Watch dava conta de oito pessoas mortas na quinta-feira em Benghazi.

Segundo a HRW, entretanto, as forças de segurança líbias já mataram pelo menos 24 manifestantes e feriram dezenas deles desde terça-feira, ao disparar diretamente contra a multidão que participa dos protestos pacíficos contra o governo. "As autoridades deveriam parar de utilizar a força, a menos que seja absolutamente necessário, para proteger vidas, e abrir uma investigação independente sobre as mortes", indicou a HRW em um comunicado. "Segundo várias testemunhas, as forças de segurança líbias dispararam e mataram manifestantes para dispersar as passeatas de protesto", acrescenta a nota da ONG.

Na quinta-feira, centenas de manifestantes marcharam nas cidades de Al Baiba, Benghazi, Zenten, Derna e Ajdabiya. Um veículo de informação líbio e fontes médicas mantêm o balanço informado na quinta-feira: nove mortos. Os confrontos mais violentos ocorreram na cidade de Al Baida, onde o hospital local fez um apelo por um reforço de suprimentos para cuidar dos 70 manifestantes feridos lá internados, metade deles em estado crítico.

Um dos feridos, que aguardava atendimento perto da unidade de tratamento intensivo do hospital, contou à HRW que a polícia usou munição de verdade para disparar contra o protesto, matando 16 e ferindo dezenas. Em Benghazi, centenas de advogados e ativistas se reuniram na escadaria do tribunal local na quinta-feira, exigindo uma Constituição e respeito à lei.

Outro manifestante entrevistado pela ONG afirmou que agentes de segurança à paisana armados com facas se uniram às forças policiais para dispersar o protesto, investindo diretamente contra as pessoas. Ele diz acreditar que pelo menos 17 tenham sido mortos pelos agentes, mas a HRW admite que apenas oito destas mortes foram confirmadas até agora. "Os ataques brutais das forças de segurança contra os manifestantes pacíficos escancaram a realidade da violência de Muamar Kadhafi diante de conflitos internos", indicou Sarah Leah Whitson, diretora da HRW para o Oriente Médio e o Norte da África. "Os líbios não podem ter suas vidas colocadas em risco ao exigir o respeito a seus direitos como seres humanos", acrescentou.

Comitês pró-Kadhafi

Os comitês revolucionários, pilares do regime líbio, ameaçaram nesta sexta-feira os manifestantes contra o poder com uma resposta "violenta e fulminante". "A resposta do povo e das forças revolucionárias a qualquer aventura por parte desses grupúsculos será violenta e fulminante", indicaram os comitês revolucionários no site de seu jornal Azahf Al-Ajdar (A Marcha Verde). "O poder do povo, a Jamahiriya (poder das massas), a revolução e o líder constituem linhas vermelhas. Quem tentar superar ou se aproximar delas se arrica ao suicídio e brinca com fogo", advertiram.

Iêmen

Ao menos cinco pessoas morreram nesta sexta-feira, duas pela explosão de granadas nas cidades de Taez e Aden, no sul do Iêmen, em mais um dia de repressão policial contra manifestantes que pedem o fim do regime de Ali Abdullah Saleh, no poder desde 1978. Na última semana, dez pessoas morreram no país, segundo um cálculo da AFP.

Em Taez, a explosão de uma granada contra uma manifestação antirregime deixou nesta sexta-feira dois mortos e 27 feridos, segundo fontes médicas. O ataque ocorreu quando centenas de pessoas protestavam novamente no centro dessa cidade depois das orações muçulmanas de sexta-feira para pedir a saída do presidente Saleh.

A granada foi lançada contra os manifestantes a partir de um carro oficial que passava a toda velocidade com duas pessoas em seu interior, contou uma testemunha à AFP. "Vimos um carro oficial que se aproximava e seus ocupantes lançaram uma granada e logo dispararam ao ar", afirmou. Em Aden, a capital do ex-Iêmen do Sul, três pessoas morreram após disparos quando a polícia dispersava uma manifestação noturna.
Uma das vítimas morreu no distrito de Jor Maksar e a outra no distrito de Jeque Othman, segundo fontes médicas. Na quinta-feira à noite, três pessoas morreram em Aden e 20 ficaram feridas por tiros da polícia, também em confrontos entre manifestantes pró e anti-governo. Sanaa, a capital do país, voltou a ser palco de confrontos nesta sexta-feira, que deixaram ao menos quatro manifestantes feridos depois de um ataque de partidários do presidente Saleh, segundo testemunhas.