Nem deu para os petistas limparem as manchas de sangue e a poeira das roupas. Os sobreviventes que saíram dos escombros do terremoto e participaram da eleição interna do PT voltam à superfície sem tempo de ser feliz: correm contra o relógio para juntarem seus cacos para a reeleição do presidente Lula. Os filiados pariram um PT dividido e elegeram seu 11º presidente: Ricardo Berzoini, ex-ministro da Previdência e do Trabalho. Foi uma vitória tão apertada que seu rival, o esquerdista Raul Pont, saiu de cabeça erguida: 51% dos votos contra 49% de Pont. “Estou otimista. Berzoini demonstrou abertura para compor com todas as alas do PT”, constatou Pont. Na tarde de quinta-feira 13, ao comentar o resultado da eleição ao lado de seu adversário, na sede do PT, Berzoini ofereceu o segundo posto mais importante da hierarquia a Pont: a secretaria geral, antes ocupada por Sílvio Pereira, que se desfiliou após a denúncia de ter recebido um Land Rover de uma empresa. Em homenagem ao passado distante, Berzoini ostentava na lapela do paletó um broche com o histórico lema “oPTei”. Durante dez anos os moderados davam as cartas. Agora, terão de negociar a formação da nova cúpula e todas as votações no Diretório Nacional com o centro e com a esquerda.

União? – O maior desafio, segundo Berzoini, será garantir a unidade do PT para apoiar o governo Lula e costurar o programa da reeleição. De fato, é difícil colocar em prática com os petistas de todo o Brasil o famoso lema marxista: “Proletários de todo o mundo, uni-vos.” No PT, união é marca de açúcar, como diz uma piada interna. Enquanto Berzoini afirmava na quinta-feira que não haverá vetos prévios a partidos na formação de uma aliança para a reeleição, Pont dizia exatamente o oposto no canto do auditório da sede do PT.

Mas pelo menos uma coisa os petistas de todos os matizes gritam unidos: “Tucanos, podem vir quentes que nós já estamos fervendo.” O presidente eleito avisou: “Estamos prontos para combater os adversários em qualquer trincheira,
até no debate sobre ética. Os que nos atacam hoje sempre fugiram das investigações.” Referia-se ao escândalo da compra de votos na aprovação da emenda da reeleição e as dúvidas que pairam sobre as privatizações, tudo no governo FHC. O problema para os petistas é que eles ainda não estão em posição confortável: além de José Dirceu, que já está sob a mira da Comissão de Ética da Câmara, mais seis deputados petistas estão prestes a caminhar para a guilhotina.
O Planalto quer que eles renunciem para estancar logo a crise. Para isso, circulou
a promessa de que o PT pagaria o gesto com uma pizza apetitosa: oferecer na bandeja a legenda para que os que fugirem da cassação tentem se reeleger no ano que vem. Uma prática condenada na política brasileira, principalmente pelo velho PT, que beneficiou parlamentares como Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), que voltou ao Senado, e Jader Barbalho (PMDB-PA), hoje na Câmara. O irresistível aroma do orégano está no ar.