Uma mulher resolve surpreender o marido, executivo do ramo eletrônico, durante um suposto trabalho extra. Para seu espanto, ela o flagra de gravata desatada e camisa aberta em beijo caloroso com outro homem. Já que a ação de Longe do paraíso (Far from heaven, Estados Unidos/França, 2002), cartaz nacional na sexta-feira 4, se passa na década de 1950, em Hartford, Connecticut, a reação de Cathy (Julianne Moore) é abandonar o local aterrorizada. Baixada a poeira, só quer acompanhar o marido Frank (Dennis Quaid) a um psiquiatra ortodoxo. Mr. Magnatech, como Frank é conhecido nas colunas sociais, não se mostra muito favorável às sessões de eletrochoque aconselhadas pelo médico e insiste nas aventuras clandestinas. Sem chão, Cathy, definida pelo jornal da cidade como uma esposa tão devotada à família quanto favorável à causa racial, encontra apoio e promessa de felicidade no jardineiro de sua casa. Detalhe: Raymond é negro.

Em poucas linhas, este é o conflito armado pelo melodrama de Todd Haynes, diretor de Velvet goldmine, que chega a imitar o mestre do gênero, o americano de origem dinamarquesa Douglas Sirk, autor de obras-primas como Tudo o que o céu permite (1956) e Imitação da vida (1959). Está lá o mesmo colorido exuberante tornando mais abominável a hipocrisia, agora não tão subentendida. Mas, diferentemente de Rainer Werner Fassbinder, que bebeu da mesma fonte, realizando filmes pungentes, a homenagem de Haynes exala uma frieza necrófila. É bonito, mas não transpira realidade.