Lula, enfim, reapareceu. Na festa de 31 anos do PT, fez o Brasil  se lembrar do tempo em que  o presidente da República fazia um discurso por dia, repleto de suor  e de exaltação. Sua frase mais importante? “O sucesso da Dilma  é o meu sucesso. O fracasso da Dilma é o meu fracasso.” Em seguida, ele emendou dizendo que os formadores de opinião não entendem nada de psicologia. Mas qual será o verdadeiro significado psicanalítico da frase de Lula? Terá ele percebido que o governo Dilma poderá ser melhor do que o seu? Ou que a opinião pública aprecia mais o estilo discreto da presidente do que a verborragia lulista? Será que, finalmente, caiu sua ficha?

Parece que sim. No mesmo dia, o Partido dos Trabalhadores divulgou uma resolução política condenando as articulações da direita – será que isso ainda existe? – para desvalorizar as magníficas conquistas de Lula, o presidente  de honra do partido. Portanto,  o discurso foi bem mais planejado do que improvisado. Com menos de 45 dias de governo, Lula já tenta se apropriar do provável êxito de sua sucessora. E talvez  só agora ele tenha percebido que não elegeu um poste, mas alguém com estilo e com ideias próprias. 

O ciúme precoce é até compreensível. Depois de oito anos  usufruindo o fausto poder, não  é nada simples se acostumar com  o anonimato e com a vida de cidadão comum. Mas o fato é que Dilma tem agradado por razões que vão muito além do fato de ter  a caneta presidencial. Sua política externa é bem mais equilibrada  do que a de Lula, a gestão fiscal  é responsável – note-se o corte  de R$ 50 bilhões em despesas –  e parece haver uma tolerância menor para indicações políticas nas estatais. Além disso, a reabertura da discussão sobre a compra dos caças para a Aeronáutica, com foco na transferência de tecnologia para  a aviação civil, sinaliza uma postura mais pragmática do que ideológica. 

Lula já tem um lugar garantido na história e deveria se esforçar mais e mais para “desencarnar”  do poder, sendo, como ele mesmo prometeu, o “melhor ex-presidente da história deste país”. O discurso desta semana revela um incômodo prematuro do ex-presidente.
Na história política, já houve  casos de criaturas que se rebelaram contra o criador. Lula talvez seja o primeiro criador que  se rebela contra a criatura.