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PRIMEIRA CLASSE
Arruda passou o Réveillon
com sua mulher em Nova York
 

Em novembro de 2009, a Operação Caixa de Pandora da Polícia Federal expôs em Brasília um dos mais bem comprovados esquemas de corrupção da história do País: o mensalão do DEM. Nas imagens gravadas, políticos e empresários da capital federal, sem o mínimo pudor, guardavam dinheiro nas meias, bolsas e até na cueca. Apesar das evidências e dos flagrantes, o caso está empacado na Justiça. Até hoje a Procuradoria-Geral da República não apresentou a denúncia. Enquanto isso, os principais envolvidos no esquema desfrutam de vida privilegiada. Um dos exemplos é o ex-governador do DF José Roberto Arruda. Flagrado embolsando um maço de cédulas com R$ 50 mil, ele passou Natal e Réveillon fazendo compras em Nova York. No mês passado, bronzeou-se na praia de Morro de São Paulo, na Bahia. Depois, foi descansar em Fortaleza. Em sua rotina em Brasília, o ex-governador frequenta uma sofisticada academia de ginástica no setor sudoeste, onde malha três vezes por semana. “Sou ficha limpa, sou virgem”, comenta Arruda com seus amigos.

Mesmo com a corrupção documentada e exibida em rede nacional de tevê, Arruda ainda está longe de se transformar em réu. Apontado como chefe da organização criminosa, o ex-governador do DF virou testemunha de acusação contra desafetos políticos. Ele prestou depoimento à Procuradoria Regional da República, em Brasília, sustentando que a promotora Deborah Guerner dissera a ele ter recebido R$ 2,4 milhões do ex-governador Joaquim Roriz. O objetivo da suposta propina era para que Roriz não fosse denunciado pelo Ministério Público. Nas conversas com ex-colegas de partido, Arruda se vangloria também de possuir hoje 200 mil votos em Brasília, com os quais poderia ficar entre os deputados federais mais votados. “O Arruda ainda tem 6% do eleitorado”, diz um ex-correligionário. Arruda mora no requintado Setor de Mansões Park Way, um dos bairros mais caros da capital. O ex-governador gosta de caminhar pela manhã com sua jovem esposa, Flávia, no Parque Águas Claras, ao lado da residência oficial do governador do DF.

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Alguns personagens do mensalão do DEM adotaram um providencial anonimato, mas continuam a operar nos bastidores. Flagrado embolsando dinheiro e ainda fazendo a “oração da propina”, o ex-deputado distrital Júnior Brunelli recolheu-se à igreja de sua família, a Casa da Benção. Tentou eleger a irmã Lilian Brunelli deputada distrital, sem sucesso. Ela obteve apenas 7,2 mil votos. O ex-deputado Leonardo Prudente, que enchia as meias com o dinheiro do mensalão do DEM e também participava da “oração da propina”, retomou a administração de suas empresas. Os dois ex-deputados distritais renunciaram ao mandato para fugir da cassação. “Que crimes o Brunelli e o Prudente cometeram? A Justiça terá de dizer qual é o crime”, diz o advogado dos ex-distritais, Herman Barbosa. “Nenhum dos dois foi indiciado e não responde a processo. Caixa 2 de campanha é ilícito administrativo.” A ex-deputada distrital Eurides Brito, filmada enchendo a bolsa com dinheiro do esquema, foi cassada. Ela tentou emplacar na Câmara Distrital seu apadrinhado, o ex-secretário de Educação José Luiz Valente, também sem sucesso. Ele recebeu somente 1,4 mil votos. Eurides passa os dias dentro de sua casa no Lago Sul, bairro nobre da capital. De lá, só sai para viajar.

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Vários outros personagens investigados por envolvimento com o mensalão retomaram seus antigos negócios. O ex-vice-governador Paulo Octávio, que renunciou ao cargo de governador após 11 dias na cadeira, voltou a comandar suas 16 empresas na área da construção civil e incorporação imobiliária, nas quais emprega cinco mil funcionários. Em entrevista à ISTOÉ, ele diz que deixou o governo porque tinha que preservar seu negócio. “Tenho 40 anos de vida empresarial e não poderia ver minha imagem sendo manchada”, diz Paulo Octávio, que é casado com a neta do ex-presidente Juscelino Kubitschek. “É bom esclarecer que não tive sigilo quebrado, não sou uma das pessoas que têm fita, vídeo, gravação, não sofri nenhuma penalidade.” O empresário ainda não sabe se vai retornar à vida pública, após o julgamento do mensalão do DEM. “Tenho que refletir, foi um golpe muito duro”, diz Paulo Octávio. “Vivo um período sabático.”

Por enquanto, os mensaleiros não têm com o que se preocupar. O Ministério Público Federal informa que ainda não tem data para iniciar a ação contra os acusados. Após o fracassado pedido de intervenção federal em Brasília, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, lavou as mãos. “Mensalão do DEM é só com a Raquel”, diz Gurgel. Por sua vez, a subprocuradora Raquel Dodge já comentou com colegas que o volume de provas é “astronômico”. Além da complexidade do processo, o mensalão estaria sendo usado politicamente por grupos que querem desbancar Gurgel em sua tentativa de se reeleger e também minar uma futura promoção de Raquel. “Por trás das críticas a Raquel está o jogo sucessório”, diz um procurador regional que atuou no caso. “A Raquel é séria, mas o caso é complicado e a arrecadação de provas foi monstruosa”. Sem a denúncia do MPF, empresários acusados de alimentar o esquema continuaram a receber recursos milionários do governo do DF. Para eles, a Caixa de Pandora, em vez de desgraças, só trouxe boas lembranças.

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Colaborou Claudio Dantas Sequeira


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