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Muito se falou que o advento da tevê digital reduziria o espaço dos profissionais que trazem no rosto as marcas naturais do tempo e da experiência, uma vez que esse sistema de transmissão nos mostra as imagens com fidelidade praticamente idêntica às da vida real. A Rede Globo vem desmontando essa tese em nome do correto telejornalismo – ou seja, o que conta é talento e credibilidade.

É evidente a sua aposta em apresentadores, âncoras e comentaristas com notória bagagem profissional. O jornalista Carlos Alberto Sardenberg, 62 anos de idade e 40 de carreira, acaba de assumir em São Paulo a função de âncora do Jornal das Dez, na Globo News. Na mesma tevê a cabo, Mônica Waldvogel, 54 anos, comanda o programa de entrevistas Entre aspas. À frente da equipe de reportagem da nave-mãe do grupo, a TV Globo, as repórteres Sandra Passarinho, 59 anos, e Neide Duarte, 58, passaram a ter mais participações diárias. "É resultado do amadurecimento da televisão brasileira", diz Sardenberg.

 

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COM MAIS DE 30 Mônica Waldvogel (acima) comanda o programa de entrevistas Entre aspas. Sandra Passarinho (à dir.) passou a ter mais entradas diárias e Carlos Alberto Sardenberg é o novo âncora do Jornal das Dez, da Globo News

 

Nas bancadas de importantes jornais da emissora estão grisalhos como Renato Machado, 66 anos, no Bom Dia Brasil, e William Waack, 56, no Jornal da Globo. A esse visual mais sóbrio soma-se a receita do bom jornalismo: inspirar confiança. Para Sardenberg, "hoje se espera que o âncora comente o noticiário e faça boas entrevistas, e para isso é preciso experiência." Trata-se de uma tendência que, segundo o professor Flávio Porcello, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, "acompanha o modelo americano".

A professora Ivana Bentes, diretora da Escola de Comunicação da UFRJ, acredita que tal fenômeno é uma reação à internet: "No telejornalismo, apresentar a informação factual não é mais suficiente. O jornalista mais valorizado também exerce uma função de analista". Mesmo quem apenas apura a notícia, como é função dos repórteres, tem poder de passar essa sensação de rigor ao telespectador, desde, é claro, que o tenha.

Sandra Passarinho, por exemplo, traz consigo essa firmeza das pessoas confiáveis: foi uma das profissionais de maior destaque nos anos 70, trabalhou na BBC de Londres e em telejornais da Rede Globo. É repórter especial da emissora, assim como a veterana Neide Duarte, que fez excelentes reportagens durante 16 anos no mesmo canal e passou uma década na TV Cultura. Com muita responsabilidade, todo esse time conseguiu da profissão o melhor patrimônio que ela guarda: credibilidade.