Deu no The New York Times, na semana passada. A poderosa Inglaterra estaria estudando pedir ajuda financeira ao Fundo Monetário Internacional para enfrentar a crise econômica. E como o presidente Lula já avisou que pretende entrar para a história como o primeiro governante brasileiro a emprestar dinheiro ao FMI, em vez de mendigar esmolas, isso significa que o nosso Brasil mestiço poderá acabar socorrendo o antigo Império Britânico, dos colonizadores loiros de olhos azuis. Uma prova definitiva de que o mundo anda mesmo de pernas para o ar. Ou de que o sertão já virou mar e de que o mar também virou sertão.

Ainda não se sabe se os ingleses, de fato, estenderão a mão ao FMI. Para um país que até ontem se julgava o centro financeiro do mundo, seria humilhante. Para o governo trabalhista de Gordon Brown, o prenúncio de uma derrota política. Mas o primeiro financista a alertar para a eventual necessidade de socorro ao governo inglês foi o especulador George Soros, que, em 1992, ganhou US$ 1 bilhão num único dia, apostando contra a libra esterlina. O alarme disparou quando o Tesouro britânico teve dificuldades para rolar títulos de sua dívida. E esse debate, sobre recorrer ou não ao FMI, está na ordem do dia na City londrina.

Ao longo da história, o Brasil já quebrou inúmeras vezes. Em alguns casos, como na crise do Encilhamento, no início da República, os grandes credores eram instituições londrinas, como o Barings, banco da rainha. Era um tempo em que os ingleses financiavam ferrovias, empresas elétricas e depois mandavam a conta. Ainda reinavam sobre o universo e definiam a tarefa de civilizar regiões selvagens como "white man’s burden", o fardo do homem branco. Colonizar era quase um imperativo moral.

Há duas semanas, Lula chegou ao encontro do G-20, em Londres, dizendo que a crise havia sido causada por "brancos de olhos azuis". Apesar da indelicadeza, o presidente saiu de lá coberto de glórias, depois da foto oficial ao lado da rainha Elizabeth. Na semana passada, Lula foi o anfitrião de um encontro do Fórum Econômico Mundial, no Rio de Janeiro, e fez até uma autocrítica. Disse que depois de 20 anos gritando "Fora, FMI", decidiu ajudar a capitalizar o fundo. O que ninguém imaginaria é que esse dinheiro um dia pudesse vir a socorrer a Inglaterra.