Um choque de austeridade foi dado pelo governo Dilma na semana passada. A presidente estabeleceu um bloqueio recorde de R$ 50 bilhões nos gastos federais previstos para este ano, numa ginástica engenhosa que tenta não comprometer os investimentos na área social e no PAC – o Programa de Aceleração do Crescimento, xodó da nova administração. O corte de recursos se dá na própria carne. Diárias de hotéis e passagens do corpo administrativo, por exemplo, foram ceifadas pela metade. Embora representem parcela pouco substancial das despesas, a simples entrada delas na conta passa uma mensagem de seriedade inequívoca. Alguns chamarão de mera jogada de marketing. Mas o fato é que a presidente Dilma, com o seu pacote antidesperdício, comprou sim briga grande com vários e infl uentes setores. A começar pelo próprio Congresso. Boa parte da economia se dará no campo das chamadas emendas parlamentares. Cerca de 80% delas foram engavetadas. Ou seja: da soma de R$ 21 bilhões em projetos solicitados por políticos e pendurados no Orçamento de 2011, pelo menos R$ 18 bilhões devem fi car de fora. Logo após o anúncio da proposta a reação veio em cadeia. E as ameaças também, como a chantagem indisfarçável de não aprovar o salário mínimo pretendido por Dilma. Até o PT e partidos da base aliada fi zeram críticas abertas ao pacotão. É uma ousadia pouco comum entre governantes em início de mandato enfrentar a demanda, sempre excessiva e repleta de desvios, de deputados e senadores. Neste aspecto, Dilma inova. Mas, no seu afã de engordar o caixa federal, precisa evitar a tentação da busca de receitas sobressalentes pela via do aumento de impostos. Ela quase foi conquistada por essa saída simplista ao autorizar que sua equipe econômica estudasse um eventual aumento do IOF sobre despesas realizadas com cartões de crédito no Exterior. O imposto no caso subiria dos atuais 2,38% para algo em torno de 4%. Certamente, a primeira e mais elementar alternativa que muitos consumidores/ viajantes adotariam seria a da compra em dinheiro vivo com moeda estrangeira. Não há como desconsiderar que boa parte das mercadorias importadas ou adquiridas por consumidores lá fora chega a custar até seis vezes menos que no Brasil. Na ponta do lápis, há quem demonstre que mesmo pagando a passagem e os custos com hotel e alimentação, qualquer turista brasileiro faz boa economia dessa forma – com eletroeletrônicos, vestuário e bugigangas de toda ordem. Mais fácil e efi caz seria cortar o peso tributário dessas mercadorias aqui dentro. Assim Dilma conseguiria bloquear também o peso das importações. 


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias