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Depois de dias interrompida devido aos protestos que paralisam o Cairo, a visitação às grandes pirâmides do Egito foi reaberta nesta quarta-feira. Um dos pontos turísticos mais visitados do mundo e considerados uma das sete maravilhas da humanidade, os monumentos ficam próximo à capital do país, Cairo, epicentro das manifestações.

Nesta quarta, pelo 16º dia consecutivo, milhares de pessoas passaram a noite na Praça Tahrir, no centro da capital egípcia, em desafio ao toque de recolher, e iniciaram nesta quarta-feira o 16º dia da revolta popular que exige a renúncia do presidente Hosni Mubarak. "Não se cansem, não se cansem. A liberdade ainda não foi alcançada", gritava um militante em um alto-falante, em meio às barracas instaladas pelos manifestantes no centro da praça.

Duas crianças de sete e oito anos andavam em meio aos manifestantes com cartazes que diziam "Mubarak mata o povo". Um dia depois da maior manifestação da revolta popular iniciada em 25 de janeiro, muitos manifestantes dormiram ao redor dos tanques do Exército posicionados nos acessos da praça para impedir uma eventual retirada.Os manifestantes temem que uma saída dos blindados tenha por consequência ataques dos grupos pró-Mubarak ou uma tentativa de esvaziar a praça à força.

Um jurista de 35 anos, Essam Magdi, se mostrou indiferente ao anúncio da criação de um comitê para reformar a Constituição. "Não podem acontecer negociações enquanto Mubarak não for embora. Quando cair, poderemos falar de muitas coisas", disse. "O Exército quer nos empurrar para dentro da praça. Querem nossa saída, por isto dormimos aqui. Queremos os soldados e confiamos neles, mas não confiamos nos que mandam neles", completou Magdi.

"Não queremos um Estado militar, nem um Estado religioso. O que queremos é um Estado baseado em instituições e em eleições", disse Atif Awad, um carpinteiro de 34 anos, membro da Irmandade Muçulmana, principal força da oposição no Egito.

Dezenas de milhares de pessoas também se reuniram em outras grandes cidades, incluídas as 20.000 de Alexandria, a maior cidade do norte do país. Mubarak fez algumas concessões ao movimento de protesto, liderado por jovens egípcios, mas se recusou a atender a principal demanda, que é sua saída imediata do poder para abrir caminho para eleições neste país árabe. Em uma tentativa de apaziguar os ânimos, Mubarabk, 82 anos, dos quais quase 30 no poder, anunciou a criação de uma comissão para alterar a Constituição, em meio ao "diálogo nacional" iniciado no domingo entre o poder e a oposição, do qual participam, pela primeira vez, a Irmandade Muçulmana, até agora rivais políticos do regime.

O chefe de Estado também prometeu uma alta de 15% dos salários dos funcionários públicos e das aposentadorias a partir de 1º de abril. Igualmente pediu a formação de uma comissão de investigação sobre os episódios de violência do último dia 2 de fevereiro na praça Tahrir, onde confrontos opuseram simpatizantes e opositores de Mubarak. Os manifestantes não se contentam com os anúncios do regime, e muitos afirmaram que o governo quer suborná-los. Em 15 dias de mobilização, o balanço é de ao menos 300 mortos, segundo cifras não confirmadas da ONU.

EUA

Depois do sucesso da mobilização de terça-feira, os Estados Unidos afirmaram que os países do Oriente Médio devem prestar atenção ao "descontentamento" de seus povos e adotar reformas, ao mesmo tempo em que defendeu a ampliação do diálogo do governo egípcio com a oposição.

O secretário de Defesa, Robert Gates, afirmou esperar que a agitação política no Egito e Tunísia sirva como advertência para os governantes na região. "O que estamos vendo na Tunísia e Egito é uma manifestação espontânea de descontentamento", disse Gates. O vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, também pediu na terça-feira a seu colega egípcio, Omar Suleiman, ampliar o diálogo para uma transição política com mais grupos de oposição, informou a Casa Branca.

Suleiman, por sua vez, disse acreditar que o Egito deve discutir as "orientações" políticas do futuro chefe de Estado. "O presidente Mubarak é favorável a uma verdadeira transferência do poder, não há nenhum problema", declarou Suleiman em um encontro com jornalistas da imprensa oficial. Pressionado, Mubarak anunciou que não vai ser candidato a um sexto mandato nas eleições de setembro. "Mas é preciso pensar no futuro do Egito, e em quem vai conduzir o país para o futuro, não a pessoa, e sim suas qualificações e orientações políticas", afirmou, em uma provável mensagem aos jovens e à Irmandade Muçulmana.

"O diálogo e a compreensão são a primeira maneira de obter a estabilidade no país e sair da crise pacificamente, com um programa de passos contínuos para solucionar todos os problemas", acrescentou. "A segunda maneira, alternativa, seria um golpe de Estado e queremos evitar isto", concluiu. Centenas de milhares de egípcios foram às ruas do Cairo e outras cidades do país na terça-feira nos maiores protestos desde o início da revolta contra o presidente Hosni Mubarak, em 25 de janeiro.

China

Policiais do sudoeste da China impediram que militantes dos direitos humanos distribuíssem panfletos com informações sobre os protestos na Tunísa e Egito, anunciou um dissidente nesta quarta-feira. Na segunda-feira, os militantes tentaram distribuir os panfletos na cidade de Guiyang, na província de Guizhou, afirmou à AFP Chen Xi. Os militantes foram impedidos pela polícia, que argumentou que o momento era "inapropriado". Os policiais ofereceram 3.000 yuanes (456 dólares) em compensação pelos gastos de impressão dos panfletos, completou o militante.