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Frio e vento, precedendo as nevascas, costumam se abater sobre Berlim nesta época. E isso repercute no tapete vermelho no primeiro dos três maiores festivais de cinema do mundo (os outros são Cannes, na primavera europeia, e Veneza, no fim do verão). Berlim é realizado em pleno inverno e raras estrelas arriscam-se a sair de uma limusine e tirar a estola de pele para exibir um decote generoso. Para compensar a falta de glamour, a Berlinale, como é chamada, investe pesado na política.

Debate-se muito, tanto a estética como a política, no Festival de Berlim. O deste ano não foge à regra e prepara protesto contra o governo de Mahmoud Ahmadinejad, no Irã, em defesa de Jafar Panahi e outros criadores que têm sido sufocados pela censura do regime dos aiatolás. Panahi foi convidado a integrar o júri, mas já se sabe que não poderá participar, já que está preso em Teerã – o processo contra ele foi considerado por observadores tão inconsistentes quanto a eleição que reconduziu Ahmadinejad ao poder. "Vamos protestar contra o veredicto drástico que quer impedir Panahi de seguir filmando", já anunciou o diretor da Berlinale, Dieter Kossli ck. Só para lembrar – Panahi ganhou o Urso de Prata por "Fora de Jogo", sobre garota que tenta driblar a lei islâmica que impede as mulheres de frequentarem estádios de futebol.

O circo já está montado. Mas para sua inauguração, na quinta, a Berlinale propõe um movimento que parece mais light. É preciso desconfiar dessa ligeireza. Afinal, o filme escolhido para abrir o 61.º festival é "Bravura Indômita", dos irmãos Coen, e os filmes deles também sabem ser provocativos e politizados. "Bravura Indômita" parece menos – baseia-se no mesmo livro (de Charles Portis) que inspirou o western cômico e homônimo que, em 1969, valeu ao veterano John Wayne o Oscar de melhor ator. Jeff Bridges, que refaz o papel do xerife Rooster Cogburn, também foi indicado – de novo – para o prêmio da Academia, que venceu no ano passado. É bem difícil que ele ganhe de novo, já que o Oscar de ator parece destinado a Colin Firth, de "O Discurso do Rei", que também estará na Berlinale, numa seção paralela.

O Brasil não participará da competição, mas terá representantes em seções paralelas. "Os Residentes", de Tiago Mata Machado, vai para o Fórum, depois de vencer, com honra, o recente Festival de Tiradentes. "Tropa de Elite 2", de José Padilha, terá sessão no Panorama Especial. O "Tropa 1" ganhou o Urso de Ouro em 2008. O júri deste ano será presidido pela atriz Isabella Rossellini. Filha de duas lendas, o autor Roberto Rossellini, fundador do cinema moderno, e a estrela hollywoodiana Ingrid Bergman, Isabella foi modelo, antes de ser atriz, ligando-se ao diretor David Lynch em filmes de culto ("Veludo Azul" e "Coração Selvagem").

Conheça os concorrentes:

"Bizim Büyük Çaresizligimiz" (Turquia/Alemanha/Holanda), de Seify Teoman;

"Almanya – Willkommen in Deutschland" (Alemanha), de Yasemin Samdereli;

"Lipstikka" (Israel/Reino Unido), de Jonathan Sagall;

"Wer Wenn Nicht Wir" (Alemanha), de Andres Veiel;

"Yelling to the Sky" (EUA), de Victoria Mahoney;

"The Future" (Alemanha/EUA), de Miranda July;

"A Torinói Ló" (Hungria/França/Alemanha/Suiça), de Béla Tarr;

"El Premio" (México/França/Polônia/Alemanha) de Paula Markovitch;

"Jodaeiye Nader az Simin" (Irã), de Asghar Farhadi;

"Les Contes de la Nuit" (França), de Michel Ocelot;

"Margin Call" (Estados Unidos), de JC Chandor;

"Saranghanda, Saranghaji Anneunda" (Coreia do Sul), de Lee Yoon-ki;

"Schlafkrankheit" (Alemanha/França/Holanda), de Ulrich Köhler;

"The Forgiveness of Blood" (EUA), de Joshua Marston;

"Un Mundo Misterioso" (Argentina/Alemanha/Uruguai), de Rodrigo Moreno;

"V Subbotu" (Rússia/Alemanha/Ucrânia), de Alexander Mindadze.