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REPAROS CONSTANTES Em 1999, o astronauta Steven Smith instalou novos equipamentos no Hubble

Uma das maiores vedetes da astronomia sairá do ar. Com missão mais que cumprida no espaço, ela vai ser aposentada. Essa vedete, a rigor, começou mal a sua trajetória, mas agora a encerra com brilhantismo – e é o orgulho de pesquisadores e astrônomos de todo o mundo. Trata-se de um telescópio, o mais potente que a ciência já construiu e que frequentou, pelo menos uma vez por mês e ao longo de 19 anos, o noticiário de publicações leigas ou especializadas de diversos países.

O seu nome? Todos nós estamos familiarizados com ele: Hubble. E essa é a sua história. Em 1990, quando foi lançado dos EUA, sobrou constrangimento na base da Agência Espacial Americana (Nasa): assim que rompeu a barreira da atmosfera, problemas nas dimensões do espelho distorciam e embaçavam as imagens que nos transmitia. Montou-se então uma operação de emergência para repará-lo no próprio espaço e uma equipe de astronautas- mecânicos viajou até o ponto sideral em que ele estava. Tudo deu certo. E esse pode ser considerado, de fato, o início da jornada desse gigante de 12 toneladas.

O Hubble começou então a produzir registros históricos que hoje somam 800 mil observações e meio milhão de imagens de mais de 25 mil objetos com os quais se deparou no cosmos. O telescópio realizou cerca de 100 mil viagens em torno da Terra e percorreu aproximadamente 3,8 milhões de quilômetros – distância equivalente à viagem de ida e volta a Saturno. Orbitando a 650 quilômetros de distância de nosso planeta, se tornou, por exemplo, a "janela tecnológica" mais poderosa para que pudéssemos entender, por meio de imagens enviadas à Nasa, como se dá o nascimento de estrelas.

Um de seus maiores feitos, no entanto, é o de ter mostrado misteriosos buracos negros e provado, a partir de registros que exibem o "apagamento" de estrelas bem maiores que o Sol, que o universo está se expandindo cada vez mais rápido e isso pode causar a sua destruição. Os olhos do Hubble também registraram, em tempo real, o efeito devastador de um cometa se chocando contra Júpiter. É natural, portanto, que agora esses olhos estejam cansados. O Hubble está a demandar uma infinidade de reparos e esse investimento não compensa para a Nasa. Assim se decidiu pela sua aposentadoria.

Fossem outros tempos, que não este de profunda crise econômica mundial a que a Nasa não está imune, e talvez se prolongasse a missão do Hubble – que já consumiu US$ 8 bilhões. Ocorre, no entanto, que já em 2010 ela desativará os ônibus espaciais Discovery, Endeavour e Atlantis, justamente os que mais socorreram o Hubble transportando astronautas para repararem os inevitáveis defeitos que surgiram com o trabalho diuturno ao longo de duas décadas – e sem essa manutenção periódica os giroscópios e baterias do telescópio não resistirão. "Enfrentamos tremendas dificuldades", diz Preston Burch, diretor de projeto do telescópio espacial. Segundo ele, o Hubble receberá sua derradeira revisão nos próximos meses, com a substituição de componentes que têm vida útil determinada. "Também trocaremos alguns instrumentos científicos por outros mais modernos", diz Burch.

O esforço da Nasa é para que o Hubble tenha uma saída de cena paulatina – e triunfal – até 2013, quan do um foguete será lançado em sua direção: uma espécie de guincho cósmico que o trará para a Terra, mais especificamente para o mar. "Uma grande parte dele irá se desintegrar no momento em que entrar na atmosfera", diz Burch. "O que sobrar cairá em um oceano que ainda escolheremos. Ainda que seja somente um pedaço, será bom tê-lo conosco. Estamos com saudade do Hubble."

ÁLBUM DO HUBBLE

Em quase duas décadas, o Hubble acumula 800 mil observações e nos enviou 500 mil imagens de mais de 25 mil objetos com os quais se deparou no cosmos. Por meio dele foi possível ultrapassar barreiras e conhecer planetas, estrelas e galáxias

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