07/02/2011 - 12:28
O presidente egípcio, Hosni Mubarak, enfrenta nesta segunda-feira novas pressões para deixar o poder imediatamente, depois que a oposição considerou insuficientes as propostas de negociar uma saída que permita ao chefe de Estado permanecer no cargo até setembro. A praça Tahrir, no centro do Cairo, continua ocupada pelo 14º dia consecutivo pelos manifestantes, que exigem que as negociações entre o regime e a oposição inciadas no domingo não deixem de lado o objetivo de que Mubarak, no poder há 30 anos, deixe a presidência.
Os grupos de jovens que iniciaram a revolta contra Mubarak formaram uma coalizão e anunciaram que não pretendem desocupar a praça Tahrir até que o chefe de Estado renuncie ao poder. Em um comunicado, a "Direção Unificada dos Jovens Revolucionários Revoltados" promete não abandonar a praça, ocupada por outros manifestantes desde 28 de janeiro, até que suas reivindicações sejam atendidas. A primeira exigência é a "renúncia do presidente".
A coalizão reúne representantes de grupos como o Movimento 6 de Abril, do Grupo pela Justiça e Liberdade, da Campanha Popular de Apoio a ElBaradei, da Juventude da Irmandade Muçulmana e da Frente Democrática. Também exige a suspensão imediata do estado de emergência, a dissolução do Parlamento, a formação de um governo de união nacional para garantir uma transição pacífica do poder político e uma reforma constitucional. Os representantes dos jovens também exigem a criação de uma comissão para investigar as mortes da semana passada.
Ataques
Homens armados não identificados lançaram quatro foguetes contra um quartel da polícia na cidade de Rafah na manhã desta segunda-feira, deixando um ferido. Os autores do ataque ainda não foram identificados. Vários ataques com foguetes contra prédios do governo foram registrados na região do Sinai, na fronteira com a Faixa de Gaza. No sábado, um gasoduto que liga o país à Jordânia foi atacado com explosivos.
O presidente americano, Barack Obama, destacou no domingo que o Egito passa por uma mudança política e defendeu a instauração de um "governo representativo" no país árabe, mas não pediu a saída imediata de Mubarak, um aliado de longa data de Washington. "Só ele sabe o que vai fazer. Não vai tentar a reeleição. O mandato termina este ano", declarou Obama em entrevista ao canal Fox News.
Mubarak prometeu na semana passada que não concorreria a um novo mandato nas eleições de setembro, mas se negou a deixar o poder de maneira imediata, alegando que isto poderia afundar o país no "caos". O vice-presidente egípcio, Omar Suleiman, nomeado para o cargo nos primeiros dias da crise, recebeu no domingo representantes de diversos grupos opositores, incluindo o movimento Irmandade Muçulmana, mas os contatos não melhoraram a situação.
Depois do encontro, os participantes concordaram em efetuar uma "transição pacífica do poder baseada na Constituição", anunciou o porta-voz do governo, Magdi Radi. Mas a Irmandade Muçulmana afirmou que as reformas propostas pelo regime eram insuficientes. Uma pessoa presente ao encontro afirmou à AFP que todas as reivindicações da oposição foram rejeitadas, especialmente a que pedia que os responsáveis pela violência da semana passada fossem levados aos tribunais. Quase 300 pessoas morreram desde o início da revolta popular, segundo a ONU.
De acordo com o porta-voz do governo, os participantes no diálogo chegaram a um consenso sobre a formação de um comitê, que incluirá o Poder Judiciário e personalidades políticas, para estudar e propor emendas constitucionais e legislativas. O diálogo contou com a presença de integrantes da Irmandade Muçulmana, dos partidos Wafd (liberal) e Tagamu (esquerda), de membros de um comitê dos grupos pró-democracia que iniciaram o movimento que exige a queda de Mubarak, além de figuras políticas independentes e empresários.
Com a participação, a Irmandade Muçulmana se distancia do Irã, que defende a implantação de um regime islâmico no Egito. O grande ausente do diálogo foi Mohamed ElBaradei, Prêmio Nobel da Paz e figura de destaque da oposição. No domingo, os manifestantes celebraram na praça Tahrir uma cerimônia conjunta entre muçulmanos e cristãos.