O governo ganhou a batalha da Câmara. Aprendeu com a antológica tragédia Severino e jogou, ou melhor, liberou suas fichas, em troca dos votos dos deputados eleitores. Sacou de baixo do colchão R$ 700 milhões do Ministério dos Transportes e acionou o freio na candidatura de Arlindo Chinaglia, o líder do governo na Casa. Com isso conseguiu emplacar Aldo Rebelo, do PCdoB, como presidente e ainda rachou o PMDB. Contra Temer ganhou Renan, presidente do Senado e aliado de primeira hora do governo.

O novo presidente tem uma tarefa árdua pela frente: recuperar a imagem, que é péssima, da Câmara dos Deputados. Para isso tem que manter interditado o forno da pizzaria. Seus pares, com culpa comprovada nos atos de corrupção, não podem ficar impunes. Até por uma questão de coerência. Maluf, o já folclórico especialista no assunto, está preso. Bom, muito bom. Mas por que só ele? É a pergunta que paira. Recente pesquisa do Ibope mostra que é absolutamente incompreensível para a população como pessoas acusadas de desviar dinheiro público, apesar das fartas evidências, podem simplesmente desmentir tudo e permanecer impunes.

Bem mais eloqüente que a pesquisa foi o gesto do taxista Eliseu, que foi às portas da Polícia Federal, em São Paulo, recepcionar o juiz de futebol Edílson Pereira de Carvalho. O juiz, aquele que, antes de cada jogo, rezava, beijava e levantava aos céus um monte de santinhos, confessou ter interferido em vários resultados das partidas que apitou, em troca de dinheiro. Enquanto dava entrevistas na porta da PF, o juiz foi presenteado com um tapa na cabeça. “Eu estava lá a trabalho, mas, quando vi a cara-de-pau dele, rindo, como se nada tivesse acontecido, não agüentei e dei um tapa mesmo”, contou o taxista Eliseu ao jornal O Estado de S.Paulo.

Em Brasília, depois do episódio, não são poucas as autoridades que clamam baixinho: “Deus, afasta de mim esse taxista!” Porque, se a moda pega, haja cabeça.