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Lucas Franco (baixo),
Theo Carvalho (vocais e guitarra), Martin ­Hannickel (bateria)
Ídolos Michael Jackson, Black ­Sabbath, NX Zero

 

O ímpeto juvenil de formar uma banda é mais velho que o rock-and-roll. Os Beatles, por exemplo, ­foram criados quando John Lennon ­tinha 17 anos e Paul McCartney, 15. Hoje, contudo, essa vontade de “fazer um som” não se limita aos privilegiados que têm um talento acima da média. Bombardeados por programas como “Ídolos”, “Glee” e “High School Musical” – e muitas vezes em reação aos clichês veiculados por essas atrações televisivas –, cada vez mais adolescentes e até pré-adolescentes vêm trocando o video­game pelo baixo, a guitarra e a bateria. “Se os grupos Restart e Cine e o cantor Justin Bieber podem, por que não eu?” é o raciocínio desses garotos e garotas que transformaram em lema colegial aquela máxima punk segundo a qual qualquer um consegue provocar um pouco de barulho com as próprias mãos – e com um instrumento, mesmo barato. É a popularização do famoso “do it ­yourself” (faça você mesmo).

A diferença dessa onda, que sempre nasce como um hobby, é que os meninos músicos de hoje não têm pressa. Eles querem tocar direitinho e não poupam tempo, chegam até a alugar estúdios profissionais para ensaios.  “Enquanto uns vão para a balada na sexta-feira, a gente fica aqui trancado, praticando”, diz a paulista Juliana Cordaro, 14 anos, que formou a banda The Indecents com mais cinco colegas da Escola Magno, em São Paulo. Iguais a ela existem muitas outras e isso, com certeza, está gerando um impacto no comércio de instrumentos e até no cenário musical. Anderson Bosco, gerente de vendas da loja Bass Center, nota um aumento na venda de contrabaixos. “A garotada entre 11 e 15 anos acha mais fácil de aprender”, diz ele.
 
Mais fácil ainda é divulgar o trabalho pela internet usando as redes sociais. Produtor voltado para o segmento jovem (está lançando o trio LunaBlu) Rique Azevedo já detectou essa mudança. “Você entra no MySpace e se depara com uma enorme quantidade de grupos. É uma força muito grande. Mas para chegar a uma gravadora, o artista tem que apresentar um diferencial.” Ele cita o Cine e o Restart como exemplos bem-sucedidos dessa tendência: “O moleque que é popular na escola começa então a divulgar o trabalho na rede.” Pelu, guitarrista do Restart, hoje com mais de dois milhões de CDs vendidos, concorda. Eles também começaram a tocar nos intervalos das aulas: “É o sonho do colégio que deu certo.”
 
No início, o repertório da maioria desses grupos é feito de sucessos dos artistas preferidos. A banda The Indecents gosta de ­Beatles e Metallica, mas já entoa uma canção própria, “Modern Times”, cujo refrão anuncia: “I don’t give a fuck about modern times” (não dou a mínima para os tempos modernos). Os professores, os de inglês à frente, dão a maior força para os voos melódicos da turma, apesar da incidência de discretos palavrões.  “É uma atividade absolutamente saudável, tão positiva quanto artes plásticas. Desperta o adolescente, passa noções de ritmo”, afirma a pedagoga Julia Kater Milani. O respaldo serve de incentivo para os treinos constantes do baterista Pedro Figueiredo, 13 anos, que formou a banda The Icers com a irmã gêmea e mais dois amigos da escola Mopi, no Rio de Janeiro. “Tocar bateria é bom para a matemática, lida com tempos”, diz ele, com a total concordância dos pais. Sua mãe, a astróloga Cristina Figueiredo, comprou um carro maior para carregar os bumbos e pratos do seu instrumento: “Vamos apoiá-los, mas nunca permitiremos que eles abandonem a escola.”
 
Pedro não é o único que sonha com a fama. Theo Carvalho, 9 anos, vocalista do grupo TL3, quer mesmo ser cantor. Ou jogador de futebol.
A desenvoltura, contudo, é maior nos palcos do que no gramado. Para comemorar o seu aniversário, ele pediu de presente aos pais o aluguel, por uma noite, da casa de shows Circo Voador, no bairro da Lapa, Rio de Janeiro. Foi atendido e lotou o local com 300 pessoas, entre amigos e familiares. “O negócio dele é palco grande, dos pequenos ele não gosta”, diz a empresária Anita Carvalho, mãe do menino. O visual ele mesmo preparou: cabelo moicano, pintado de vermelho. “Quando entro dá aquele nervoso, mas passa rápido, fico logo tranquilo”, diz Theo, que já compôs quatro músicas com seus dois colegas, conhecidos em uma escola de música.  “Decisões da Vida” fala de um dilema sério: fazer o dever de casa ou jogar bola?

Outra música que causa sensação nos shows do TL3 é a versão de “Beat It”, de Michael Jackson. A diversidade de gostos, aliás, é uma característica dessas bandas escolares. O quarteto ­Life Sense, de Brasília, rompeu com a tradição roqueira da cidade e toca de pop a sertanejo. “Na hora das canções de Fernando & Sorocaba os roqueiros vão todos embora e só ficam as meninas”, diz o violonista Luan Lisboa, 17 anos. Acabar com o clube do Bolinha é mais uma novidade. As garotas agora não ficam apenas no ­backing vocal: empunham baquetas, tocam baixo e solam ­guitarra, caso da carioca Antonia Baptista Lopes Magno de Carvalho, 14 anos, do quinteto ­Seven Life. Ela aprendeu os primeiros acordes na própria escola, o Centro Educacional da Lagoa, no Rio. Hoje posa de estrela. “Gosto da sensação de ser conhecida como integrante de uma banda”, diz Antonia, com a vaidade típica dos que se sentem à vontade diante de plateias.

Colaboraram: Adriana Nicacio e Natália Rangel

 

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