A notícia correu os quatro cantos do mundo: Fidel sai de cena. Sai? Qualquer observador mais atento notará que não. Cuba está impregnada de Fidel e mesmo os eventuais sucessores seguem por sua cartilha, e assim devem continuar por algum tempo. Quase 50 anos após a revolução daqueles românticos guerrilheiros liderados pelo Comandante, como era chamado, Cuba ficou para trás. Parece parada no tempo, política e economicamente. Apresentou avanços dignos de nota na educação e saúde. Mas enclausurou- se numa redoma de idéias atrasadas, levadas adiante na base da tirania. Cuba vingou até aqui como último reduto firme de um modelo político que caiu por terra e ainda não mostra muito empenho em mudar esse status. A ilhota que o próprio Fidel acostumou a definir como um risco no mapa não tem hoje nem a mera noção de como se integrar à economia globalizada em curto espaço de tempo. Alijada do processo de modernidade devido ao embargo americano, Cuba resiste como uma caricatura de si mesma. Fidel, após anos de resistência, assumiu ares pitorescos. Nem mesmo os ferrenhos adversários, como os EUA, acreditam firmemente numa conversão do dia para a noite. A Cuba de Fidel continuará como Cuba de Fidel. Mesmo sem Fidel. Ele sai dos holofotes, mas há quem diga que nos bastidores da cena, apesar de adoentado, alquebrado e sem aquela verve de discursos intermináveis, continuará dando as cartas e o rumo da ilha. A abertura, como em todas as ditaduras à esquerda e à direita que vingaram por aqui, deverá ser “lenta, gradual e segura”. A indicação do irmão de Fidel, Raúl Castro, é um sintoma dessa tendência. Outros muitos estão espalhados pelas ruas de Havana e arredores. A maneira como os cidadãos cubanos ainda são tratados, privados dos mais elementares direitos, diz muito de um país que – com 11 milhões de habitantes e PIB magro, de pouco mais de US$ 40 bilhões – enfrenta agora o grande desafio da integração. Uma integração tardia, porém vital para a sua sobrevivência.