O suíço naturalizado brasileiro Gérard Moss já fez de tudo um pouco nesta vida. Velejou, fez ralis e deu a volta ao mundo, sozinho, pilotando um motoplanador. Mas é no Brasil que ele está concentrando suas habilidades como piloto desde outubro do ano passado, quando deu início ao projeto Brasil das Águas, uma expedição que está fazendo um levantamento inédito da qualidade das águas dos principais rios, lagos e lagoas de norte a sul do País. O objetivo é percorrer mais de 100 mil quilômetros em território brasileiro a bordo do seu hidroavião, o Talhamar. A intenção era finalizar a expedição em outubro, mas, pela complexidade da viagem, o prazo acabou sendo estendido para dezembro. “Temos um roteiro preestabelecido, mas a cada vôo há surpresas. São lagos que secaram ou lagoas novas que se formaram”, disse Moss a IstoÉ durante um descanso em Alta Floresta.

A primeira fase do projeto, no entanto, já foi concluída. Com alguns resultados positivos e outros nem tanto. “Apesar de conhecer bem a região do Pantanal, não imaginava que suas águas estariam em início de degradação, principalmente o rio Itaguari, que está numa situação crítica”, afirma Moss. O Talhamar, um verdadeiro laboratório aéreo, já fez vôos rasantes em águas doces das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. Ao todo, Moss e Margie, sua esposa e companheira de aventura, já coletaram mais de 400 amostras. Todas elas passaram por uma análise inicial de determinadas características físico-químicas das águas ainda no próprio avião e agora estão sendo analisadas nos mais importantes centros de pesquisas do País, entre eles o Instituto Internacional de Ecologia (IIE), em São Carlos, e a Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Até agora, a viagem se concentrou mais em lugares próximos à civilização. Os cientistas constataram que essa proximidade interfere diretamente nos rios, seja pelo despejo de dejetos, seja pelo desmatamento e formação de pastos. Em muitos casos, a própria cor da água indica se há problemas ou não. O rio Mãe Luiza, em Santa Catarina, é um exemplo curioso. Em seu curso, ele muda cinco vezes de cor – vai do verde e do amarelo até o laranja, marron e azul. Em cada trecho significa que há um problema diferente. “A parte amarela mostra que ele sofre com os resíduos de carvão que se encontram entre Criciúma e Tubarão. No trecho mais cristalino e azul, que imaginávamos estar intacto, o pH está muito baixo, muito ácido”, diz José Galizia Tundisi, presidente do IIE.

A fase mais esperada da expedição começou há poucos dias. Nela, Moss irá conhecer lugares virgens, rios, lagos e lagoas que ninguém jamais chegou perto. “Acabei de passar pelos rios Benedito e Cristalina, na região da serra do Cachimbo, e fiquei impressionado. Eles estão como no início da criação da Terra: maravilhosamente intocados. Isso dá coragem para batalhar pela preservação desses tesouros que muitos países não têm mais”, comemora Moss. Toda a viagem está sendo fotografada por Margie e, ao final da expedição, essas imagens se transformarão em um livro.