A gasolina cheira mal no Brasil. E não é de agora. Em 14 de junho de 2000, ISTOÉ cunhou a expressão “gasolina podre”, chamada de capa daquela edição. A reportagem mostrava, então – mais de quatro anos atrás –, que o combustível oferecido em boa parte dos postos do País era misturado com solvente ou água, danificando motores e prejudicando consumidores. A reportagem denunciou também que, como fruto de uma verdadeira farra de liminares fornecidas pela Justiça, naquele momento um em cada quatro litros de combustível vendido não pagava impostos. Meses depois, em outubro, ISTOÉ, em nova reportagem de capa, denunciava o esquema de compra de permissões, na Agência Nacional do Petróleo (ANP), para funcionamento de distribuidoras. No pântano jurídico, liminares eram fornecidas a empresas antes mesmo de sua constituição legal. Pouco se fez para pôr ordem na orgia. E neste pouco inclui-se uma medida que obriga a adição de um produto químico, chamado de marcador, no solvente para que este possa ser detectado quando misturado à gasolina.

O tempo passou, o governo mudou e a gasolina continua exalando mau cheiro. Em junho passado, ISTOÉ publicou, na edição do dia 16, reportagem com a transcrição de escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal com autorização judicial, nas quais o dono de uma empresa de combustíveis conversava com um empresário casado com a assessora do superintendente de abastecimento da ANP. Falava-se sobre o marcador acima mencionado: “… o embaixador (Sebastião do Rego Barros, diretor-geral da ANP) já queria acabar com o marcador… tem que dar um jeito de acabar com esta bosta aí, entendeu?…”, vociferava o empresário para o marido da moça da ANP. A divulgação da reportagem exclusiva de ISTOÉ ocasionou a demissão de Cláudia Maia Bandeira, a assessora do superintendente, e de César Ramos Filho, o chefe do núcleo de fiscalização da ANP.

Nesta edição, ISTOÉ volta ao tema. Está nas mãos do ministro do Superior Tribunal de Justiça, José Arnaldo da Fonseca, o resultado da Operação Ouro Negro, investigações comandadas pelo delegado da Polícia Federal Cláudio Nogueira que revelam, segundo o policial, a maior fraude fiscal da história brasileira. O personagem central é o empresário e lobista Amadeu Moreira Ribeiro de Carvalho, que usa e abusa do nome de figurões da República e foi pego nas investigações do delegado corrompendo membros do Judiciário para não pagar impostos sobre combustível. Ou seja, a gasolina, no Brasil, continua a cheirar mal.