Estranhas ligações (Em cartaz no RJ e em SP) – Numa trama com toques surrealistas, partes de um touro, sacrificado depois de uma tourada, vão parar em diferentes lares entre a Espanha, a França e a Bélgica. Os olhos ficam com o oftalmologista Jaques (Jacques Gamblin) cuja mulher vai dar à luz quíntuplos; a cauda se transforma num suculento prato da espanhola Alicia (Angela Molina); o fêmur vira alimento do cachorro da garotinha Winnie (Raphaelle Molinier); e os chifres são presenteados ao taxidermista Luc (Bernard Sens), que vive com a mãe em um trailer. Através deste recurso bizarro, a diretora francesa Delphine Gleize uniu histórias de pessoas solitárias num enredo misterioso e envolvente, que traz como atrativo a música Valsinha, nas vozes de Chico Buarque e Ney Matogrosso. (Ivan Claudio)
 

Nem que a vaca tussa (Em cartaz nacional na sexta-feira 9) – Na linha dos cartoons histéricos dos anos 1950, o novo desenho animado em 2D da Disney tem como protagonistas três vacas muito loucas que se unem para evitar que a dona do rancho em que vivem perca tudo para um negociante mau-caráter. A sra. Caloway é uma rês conservadora eternamente aborrecida com Grace, uma tipinha neo-hippie ligada em holística. A fazenda pega fogo com a chegada da afetada Maggie, uma ex-top model de feiras de gado atravessando dias de, pode-se dizer, penúria financeira – para não usar nenhuma expressão mais ofensiva. Recheada de clichês e citações, o charme da produção fica por conta das vozes da rotunda Roseanne Barr (Maggie), da esganiçada Jennifer Tilly (Grace) e da veterana Judi Dench (sra. Caloway), que na versão dublada foram substituídas por nada menos que Cláudia Rodrigues, Isabela Garcia e Fernanda Montenegro, respectivamente. (Luiz Chagas)

Você me mata, mãe gentil – crônicas (Nova Fronteira, 256 págs., R$ 26), de João Ubaldo Ribeiro – Baiano mais carioca do mundo depois de Dorival Caymmi, Ubaldo desfia a mordacidade apreendida nas tardes modorrentas da Ilha de Itaparica, onde nasceu, em 56 crônicas
escritas entre 1999 e 2004. Tendo como cenário recorrente “um boteco no Leblon”, o autor “papeia” com o leitor sobre a realidade brasileira, dos itens obrigatórios como o Carnaval, a esculhambação, a ladroagem e a impunidade, aos assuntos episódicos, como a era FH, o governo Lula, o besteirol em volta da comemoração dos 500 anos e a “mudernidade” que acometeu a imprensa do País. Tudo isso sob a ótica de um escritor premiado em todo o mundo, mas fiel à sua origem de povo brasileiro, assalariado, penalizado, sempre devendo. Como o autor explica na crônica que dá título à coletânea, “ser rico é que é chato”. (Luiz Chagas)