Os cenários estão prontos e o elenco apresentou-se na quarta-feira 30 de junho. A temporada de desfiles será curta: os modelos da política terão apenas três meses para fisgar os votos de 120 milhões de eleitores no dia 3 de outubro. O espetáculo começa na terça-feira 6 de julho, quando cerca de 400 mil candidatos a prefeitos, vice-prefeitos e vereadores de 27 partidos invadirão os palcos das 5.564 cidades, apresentando-se em comícios, carreatas, panfletagens e em outdoors. Na mídia eletrônica, a propaganda eleitoral será mais curta: 45 dias, começando em 17 de agosto. Será a 13ª eleição direta desde que o país livrou-se da ditadura dos quartéis, há 40 anos. Será também a primeira batalha eleitoral travada pelo PT de Luiz Inácio Lula da Silva desde que conquistou o Planalto, em 2002. Por isso, este pleito ganha um ar plebiscitário, um teste de força para a estrela petista. O 13 carrega a aura de agourento, mas os petistas o têm como um algarismo de sorte por ser seu número oficial. Mas até agora a sorte não sorriu ao PT, que viu naufragar o seu projeto de caminhar junto com o PMDB, o maior partido da base governista. Das 26 capitais, o PT só conseguiu aliar-se ao PMDB em três: Boa Vista (RR), Palmas (TO) e Curitiba (PR). O PTB tem procurado ocupar este vácuo, mas o partido que mais se aliou ao PT nestas eleições continua sendo o tradicional PCdoB.

O fracasso desse projeto estratégico com o PMDB – que visava inclusive fortalecer os sonhos de 2006, como ganhar o governo paulista e reeleger Lula – começou em São Paulo, cidade escolhida pelos petistas como a sua prioridade no pleito deste ano. Apesar dos apelos dos caciques petistas, inclusive o próprio Lula, a prefeita Marta Suplicy bateu o pé e não aceitou um vice do PMDB. Indicou seu ex-secretário de Governo Rui Falcão (PT) como companheiro de chapa, e assim o PMDB lançou candidatura própria: o deputado federal Michel Temer. Marta acabou fechando acordo com o PTB, PL, PCdoB, e os nanicos PRTB e PTN. Mas na quarta-feira, 30 de junho, veio o último golpe, que fez acender o sinal amarelo no bunker petista: Temer decidiu apoiar a ex-prefeita Luiza Erundina (PSB), que ficou assim com o terceiro maior tempo na propaganda de tevê, atrás de Marta e do tucano José Serra.

O que detonou a decisão do PMDB foi uma declaração infeliz da prefeita, no programa Roda Viva, da TV Cultura, na segunda-feira 28: disse que não confiaria
em um vice peemedebista. Marta mostrou que ainda não conseguiu domar o gênio explosivo, responsável pela imagem de arrogante, uma das razões para seu alto índice de rejeição (42%, segundo o Datafolha). Está atrás somente de Paulo Maluf, do PP (48%), que todos os dias tem que se explicar a respeito das denúncias de supostas contas milionárias no Exterior. Marta pegou a prefeitura destroçada depois da gestão de Celso Pitta e transformou a cidade em canteiro de obras. É mal avaliada em áreas como a saúde, mas já recebe aplausos na educação e nos transportes por ter implantado o bilhete único, que permite ao cidadão pagar
uma passagem (R$ 1,70) e andar por duas horas nos ônibus da cidade. Para completar o quadro agourento para o PT, duas pesquisas mostram que Marta está enroscada em terceiro lugar, atrás de Serra e de Maluf. Talvez o salto que o PT escolheu para este desfile seja alto demais.