– Chamando controle São Paulo.
– Prossiga.
– Na frequência Papa Tango Yankee Tango Vítor, procedo de Alphaville, posição Cebolão, ingressando na rota Pinheiros, destino Serra Delta Serra November, Setor 3.
Afirmativo. Livre ingresso. Prossiga na rota Pinheiros, acuse final para Serra Delta Serra November. Livre Pouso. Chame para decolar.

O diálogo relatado acima representa uma revolução no vôo de helicópteros na
cidade de São Paulo. Revela o contato de um piloto pedindo autorização à torre para pouso em um heliponto instalado num edifício no bairro do Itaim, zona sul. Para fugir dos engarrafamentos, das obras da prefeitura e dos assaltos no chão, empresários, altos executivos, artistas, enfim, quem tem bala na agulha, não pensam duas vezes em sair pelo alto. Pode-se dizer, sem exagero, que a maior cidade da América do
Sul vive um boom aéreo. Hoje, circulam pelo céu paulistano mais de 400 dessas aeronaves. No número de operações compreendidas por pousos e decolagens só perde para Nova York. Mas o que parecia ser uma solução estava se transformando num problema. Criados especialmente para o deslocamento dos helicópteros,
os imaginários corredores no ar começaram a ficar travados. O intenso movimento criava transtornos até para os aviões que pousam no aeroporto de Congonhas
e levou as autoridades aeronáuticas a adotarem medidas para disciplinar o trá-
fego. Assim, desde 10 de junho, São Paulo tornou-se a primeira cidade do mun-
do a contar com uma equipe de controladores de vôo exclusiva para monitorar as operações de helicópteros.

Os problemas na área de Congonhas foram determinantes para a alteração na
regra do jogo. Os Airbus e Boeings mais modernos que operam no aeroporto
são equipados com um avançado sistema anticolisão. Este é acionado toda
vez que um objeto entra na rota do avião. Era isso que vinha ocorrendo. Os helicópteros que voavam no corredor da Marginal do rio Pinheiros, sentido Santo Amaro-Lapa, iam na direção contrária às aeronaves que pousam na pista 17 de Congonhas. O desencontro disparava o sensor de alerta dos jatos, que eram obrigados a arremeter. Nesse procedimento, o piloto dá potência às turbinas e o avião, que se preparava para descer, volta a ganhar altura. No entanto, para o chefe do Serviço Regional de Proteção ao Vôo de São Paulo (SRPV-SP), coronel aviador Luiz Cláudio Ribeiro da Silva, nunca houve real ameaça de uma tragédia nos céus da cidade. “O problema é que o equipamento não tem sensibilidade para detectar se os helicópteros estão ou não se dirigindo em direção aos aviões. Ele simplesmente aponta a presença do objeto e dá o sinal para a arremetida.”

Para dar um fim a esses contratempos, desde junho os helicópteros têm que necessariamente trafegar no novo corredor criado acima dos bairros do Morumbi, Butantã e Jaguaré, zonas sul e oeste de Sampa. Além disso, a altitude máxima em algumas rotas também foi aumentada. Passou de 3 para 3,2 mil pés. A intenção é diminuir o nível de ruído no solo. Porém, a medida mais importante do pacote é o monitoramento dos helicópteros no entorno do aeroporto mais movimentado do País. Quem sobrevoar a área demarcada – cerca de 12 quilômetros de comprimento por 10 quilômetros de largura a partir da cabeceira da pista de Congonhas – terá necessariamente que comunicar à torre sua posição e destino. Antes, os próprios pilotos se encarregavam da tarefa. Uma equipe de 20 controladores foi treinada pela Aeronáutica para a nova função. “O volume de tráfego é muito grande. No entorno do aeroporto há 118 helipontos e uma média diária de 200 operações. É uma frequência alta, que necessitava de acompanhamento”, diz o coronel Ribeiro. Entre os comandantes das aeronaves, a aceitação à nova regulamentação tem sido boa, apesar do aumento do tempo médio de vôo em alguns percursos. O presidente da Associação dos Pilotos de Helicóptero de São Paulo, Carlos Alberto Artoni, diz que as regras vieram em boa hora. “Precisávamos fazer alguma coisa. Havia reclamação das companhias aéreas e dos moradores por causa do barulho. A partir de agora as operações de helicóptero na cidade entram em uma nova era.”

As novas deliberações podem alavancar ainda mais um negócio que desconhece o significado da palavra crise. Com 982 unidades registradas, o Brasil ocupa o sétimo lugar no ranking mundial. A taxa de crescimento médio da frota nos últimos dez anos foi de 8,5%. A global ficou na casa dos 3%. Se mantiver o ritmo, em pouco tempo chegará à sexta colocação. São Paulo, a capital brasileira do helicóptero, tem hoje dois aeroportos habilitados para as operações – Campo de Marte e o próprio Congonhas –, três helicentros e 260 helipontos, destes 200 elevados, ou seja, em edifícios. O helicóptero definitivamente tornou-se indispensável para o dia-a-dia paulistano: leva passageiros, faz escoltas, é usado por bancos para transportar valores, participa de operações de resgate, vigilância patrimonial, resgates aeromédicos e operações de perseguição de assaltantes, entre outras designações. Transformou-se até em cenário para encontros românticos. Pacotes especiais incluem passeios noturnos com direito a jantar e pernoite em elegantes hotéis da cidade. Porém, com alguma folga, o uso mais recorrente é o corporativo. Dono de uma consultoria financeira, Ivair Roberto Duarte é cliente assíduo. Há mais de 20 anos voa para agilizar os negócios. “De helicóptero posso ir a três reuniões em um único dia. De carro, em São Paulo, isso seria absolutamente impossível. Sem falar no fator segurança”, diz Duarte, cliente da Global Táxi Aéreo. Ele voa uma média de quatro horas por semana. Gasta, por mês, cerca de R$ 12 mil.

Apesar dos altos custos, há quem prefira ter a sua própria máquina. Uma das opções para quem deseja adquirir uma sem ter que desembolsar milhares ou milhões de dólares é a propriedade compartilhada. Produto exclusivo da Helisolutions, o sistema é simples. O preço final do helicóptero é dividido em dez cotas. Ao adquirir uma delas, o interessado torna-se um dos sócios da aeronave. Exemplo: um Esquilo, que custa aproximadamente US$ 2,2 milhões (R$ 6,9 milhões), sai para o comprador por US$ 220 mil (R$ 680 mil). As despesas com hangar e piloto, R$ 35 mil mensais no caso do mesmo Esquilo, também são fracionadas entre os cotistas. Lançado há três anos, o sistema conta hoje com 80 clientes. O presidente da empresa, Walterson Caravajal, garante que não há risco de dois donos solicitarem a aeronave no mesmo dia e horário. “Por ano, um helicóptero voa cerca de 100 horas. A ociosidade é grande. Por isso, o risco de coincidência é quase nulo. E, se acontecer, dispomos de aeronaves extras para essa situação.” Em parceria com um grande banco brasileiro, a Helisolutions está lançando um plano de financiamento para a aquisição de cotas. É mais uma oportunidade, para quem pode, de fugir do ladrão, das obras, do congestionamento na Paulista…

Agradecimentos à Global Táxi Aéreo