Depois da exaustiva procura por sinais de vida em Marte, a agência espacial americana Nasa elegeu a próxima celebridade a ser explorada. Os escolhidos foram o misterioso planeta Saturno e Titã, a maior de suas 31 luas. O satélite é o único do Sistema Solar com atmosfera própria e composição química parecida com a que existia na Terra alguns bilhões de anos antes de a vida surgir. Só essa suspeita já justificaria uma missão como a da sonda Cassini-Huygens, orçada em US$ 3,5 bilhões e lançada em parceria da Nasa com a agência espacial européia (ESA).

A jornada rumo ao sexto planeta mais distante do Sol consumiu sete anos e é
uma das maiores aventuras humanas para descobrir pistas sobre a origem do Universo. Saturno é 9,5 vezes maior do que a Terra, formado por densas nuvens gasosas de hidrogênio e hélio. Como uma bexiga, ele flutuaria se fosse colocado numa banheira gigante.

Antes de se aproximar da superfície do planeta, a sonda Cassini deve completar outras três etapas: o sobrevôo à lua Phoebe – pedregulho esburacado e inativo que pode trazer pistas sobre as origens do Sistema Solar –, a aproximação de Titã e o estudo dos anéis que envolvem Saturno. No primeiro final de semana de julho, Cassini cruzou os cinturões e captou imagens impressionantes. Há ao menos seis anéis, feitos de gelo e poeira cósmica. “Esperamos obter informações sobre o número, a composição e a formação dessa parte obscura do planeta”, diz o astrônomo Amâncio Friaça. Cassini mostrou que as bordas anelares contêm mais oxigênio do que se imaginava, resultado de colisões com corpos celestes.

Para os astrônomos, mais intrigante do que os anéis é o que a lua Titã pode revelar. O satélite é uma geladeira de ingredientes orgânicos guardados a 180 graus negativos. Na semana passada, a Cassini enviou os primeiros flagrantes da superfície congelada de Titã. A partir do Natal, seu módulo de pesquisa Huygens vai se desprender do corpo da nave para pousar em Titã em janeiro.

Enquanto isso, Cassini permanecerá na órbita de Saturno pelos próximos quatro anos, tempo suficiente para dar 76 voltas ao redor do planeta e fazer 45 rasantes sobre sua maior lua. A sonda é equipada com 18 instrumentos, entre câmeras de alta resolução, radares e aparelhos para medir frequências de luz e desvendar a composição dos corpos. Seus olhos, ouvidos e nariz biônicos estão programados para captar poeira estelar, luzes ou radiações invisíveis e calcular as dimensões do planeta. Todas as informações coletadas servirão como peças no imenso quebra-cabeça da origem da vida.