Corrupção, incompetência, impunidade. São muitos os males do Brasil. Quando andam juntos, então, ninguém segura este país. Batem todos os recordes mundiais e não cansam de surpreender os incautos que trabalham, estudam, criam, produzem. Mais uma vez ISTOÉ expõe em suas páginas uma mazela nacional. A partir das primeiras informações da força-tarefa – integrada por servidores do Ministério Público, da Controladoria Geral da República e da Polícia Federal –, os jornalistas Amaury Ribeiro Jr. e Leonel Rocha iniciaram o trabalho que está na capa desta edição. Foram meses de apuração em busca das fortunas construídas por quem tem salário de barnabé.

É surpreendente e assustador que 400 funcionários públicos tenham se transformado em milionários sem que o enriquecimento tenha levantado suspeitas. Eles e elas são de todas as regiões do País. Muitos estão ou estiveram em cargos-chave da administração federal. Movimentaram cerca de R$ 350 milhões, mandaram milhares de dólares para o Exterior, compraram centenas de imóveis. Questionados sobre a capacidade de multiplicar dinheiro e fortalecer a economia dos paraísos fiscais, deram uma resposta-padrão: “Não enviei dinheiro para fora. Deve ser outra pessoa.”

A partir do levantamento da força-tarefa, o Estado brasileiro tem excelente oportunidade de mostrar um comportamento exemplar. Separar quem está envolvido em atividades ilegais – sonegação fiscal, evasão de divisas,improbidade administrativa, corrupção – daqueles que podem explicar a origem de sua riqueza. Mesmo apresentando sinais exteriores que justificam a suspeita. O que não pode continuar é a impressão generalizada de que ninguém é punido quando os crimes envolvem “gente fina”. Em todos os níveis da administração pública, existem pequenos esquemas que sugam verbas e mais verbas. São os ralos por onde passam a comida que alimenta o cardume de pequenos predadores do Erário. Afinal, os tubarões podem ser mais gulosos, mas as piranhas também fazem muito estrago.