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O mundo está indiscutivelmente melhor que há um ano, mas não faltam riscos ameaçando as perspectivas de recuperação da economia global. Os mais citados no primeiro dia do Fórum Econômico de Davos foram o desequilíbrio fiscal dos Estados Unidos, a crise dos países periféricos da Europa (que ameaça chegar aos centrais, como a Espanha), as turbulências políticas causadas pela alta dos alimentos, especialmente no Oriente Médio, e a capacidade de os principais emergentes, como China, Índia e Brasil, realizarem um "pouso suave" de suas economias superaquecidas.

Além disso, como causa mais profunda de quase todos esses problemas, há a persistência dos grandes desequilíbrios macroeconômicos globais, levando a guerras comerciais e cambiais, e à grande volatilidade nos mercados financeiros. E, como falha mais gritante da recuperação, a crise do emprego nos países ricos persiste. "Há uma recuperação dos lucros, dos negócios e da bolsa, mas não há uma recuperação do emprego", disse Philip Jennings, secretário-geral da UNI Global Union, que representa 900 sindicatos e 20 milhões de trabalhadores no mundo.

O célebre economista Nouriel Roubini, que previu a crise das hipotecas subprime, iniciou nesta quarta-feira (26) sua apresentação em Davos usando a velha comparação com o copo meio cheio ou meio vazio. Em diversas apresentações, foi possível notar que o copo meio cheio diz respeito especialmente à exuberância das grandes economias emergentes e à surpreendente recuperação dos lucros das maiores empresas americanas, que têm hoje entre US$ 1,5 trilhão e US$ 2 trilhões, segundo as cifras mencionadas no Fórum Econômico Mundial.

A própria recuperação americana, que ganhou fôlego com os últimos indicadores, é apontada como um dos principais pontos positivos do atual cenário. Mas há preocupações quanto à sua firmeza, mesmo no curto prazo, sem falar do problema estrutural do déficit público. Outro destaque é que a retomada americana vem com políticas fiscais e monetárias que já se aproximam dos seus limites.

Já o copo meio vazio está ligado à relutância dos Estados Unidos em traçar um plano crível de médio prazo para lidar com seu explosivo déficit público e à dificuldade das autoridades econômicas europeias em enfrentar de forma coordenada e decisiva a crise dos países periféricos do continente, como Grécia, Portugal e Irlanda. A alta das commodities, por sua vez, está provocando inflação no mundo emergente, que pode atrapalhar a cambaleante recuperação do consumo nos países ricos, e está causando sérios problemas no Oriente Médio.

Sarkozy defende euro

O presidente francês Nicolas Sarkozy afirmou nesta quinta-feira no Fórum de Davos que ele e a chanceler alemã Angela Merkel "nunca" abandonarão o euro, em um discurso no qual voltou a defender a criação de um imposto sobre as transações financeiras para financiar a ajuda ao desenvolvimento. "Posso garantir a vocês que tanto Merkel como eu nunca, me escutem, nunca abandonaremos o euro", declarou Sarkozy na 41ª edição do Fórum Econômico Mundial (WEF) que acontece na estação de esqui dos Alpes suíços.

O presidente francês criticou as manchetes da imprensa que anunciavam o fim do euro há alguns meses. "Os artigos passaram, o euro permaneceu", afirmou, depois de ter apresentado à elite mundial reunida em Davos as prioridades da presidência francesa do G20. "A questão do euro não é apenas uma questão monetária, não é apenas uma questão econômica. É uma questão de identidade. A mensagem sobre o euro é uma mensagem muito simples, mas importante: estaremos onde for necessário para defendê-lo", insistiu Sarkozy.

Segundo autoridades e analistas reunidos em um debate no WEF, a Europa teria entrado em uma "crise terrível" sem o euro. "Se for levado em consideração o que teria acontecido na Europa se não tivéssemos o euro, se a União Europeia e a coordenação que constatamos recentemente não tivessem existido, acredito que teríamos visto uma crise terrível", afirmou o diretor geral da gigante francesa da publicidade Publicis, Maurice Levy.

Dos ricos para os pobres

Sarkozy aproveitou a apresentação em Davos para destacar suas prioridades à frente do G20, que tem presidência francesa este ano, e voltou a defender a iniciativa de uma taxa sobre as transações financeiras, sugerindo que "um grupo de países líderes" dê o exemplo e a adote. "Em Copenhague, os grandes países do mundo adotaram a decisão de destinar aos países mais pobres 120 bilhões de dólares anuais a partir de 2020. Como todos os nossos orçamentos estão em déficit, não há ninguém que possa imaginar que este dinheiro sairá dos orçamentos dos Estados. Por isto, não temos opção", declarou.

"Se não queremos ser criticados, é necessário criar financiamentos inovadores. Não é uma eleição, é algo inevitável", insistiu. Sarkozy reiterou a preferência pela taxa, rejeitada por muitos países, mas se mostrou aberto a outras ideias. Para o presidente francês, dedicar dinheiro ao desenvolvimento é o modo de enfrentar os perigos da "ascensão do terrorismo que se alimenta da pobreza" e da "ascensão do integrismo que se alimenta das injustiças".

Susto

Uma pequena explosão de origem desconhecida ocorreu nesta quinta-feira, sem causar vítimas, em um hotel da estação de esqui suíça de Davos, informou a polícia local. "Uma pequena explosão de origem desconhecida aconteceu no porão do hotel Morosani Posthotel, em Davos", precisou um porta-voz da polícia. "Não houve vítimas e os danos materiais são poucos", acrescentou.