Vereador quer limitar venda de acarajés em Salvador.” “Cego vai ser jurado em concurso de miss.” “Mineiro tem luz cortada por não pagar conta de R$ 0,1.” “Lambida de vaca cura reumatismo no Camboja.” “Mexicanos preferem trabalhar a fazer sexo, diz pesquisa.” A lista é extensa. No computador de Alessandro Bender, especialista em projetos de comunicação corporativa, há mais de duas mil notícias estranhas como essas. Aos 37 anos, ele lê ou pelo menos dá uma bisbilhotada em meia dúzia de jornais todos os dias, incluindo boletins de agências estrangeiras como Reuters e France Press. As 366 mais curiosas foram reunidas no livro As notícias + malucas do planeta, lançamento da editora Contexto (R$ 27). Todas elas foram encontradas nos últimos três anos em veículos informativos de credibilidade. “A gente tem mania de achar que o mundo faz sentido, que tudo se encaixa. Esse apanhado de notícias mostra que há muita coisa que foge do normal. São as falhas na ‘Matrix’”, classifica o autor.

Paulista, Bender se diz vidrado em coisas bizarras e lamenta que, em grandes cidades como São Paulo, muita coisa que deveria causar espanto passa despercebida. “A gente já se acostumou com as crianças nos sinais, por exemplo. Mas quem usa uma roupa ou um penteado extravagante ainda chama atenção, em qualquer sociedade, por causa da atitude retrógrada da maioria das pessoas em relação ao novo”, diz. O acervo de notícias esdrúxulas começou em um pequeno círculo de amigos. Quando algo nos jornais chamava sua atenção, Bender recortava a página e mostrava para os mais chegados. Logo, os amigos começaram a municiá-lo com todas as notícias gozadas que encontravam. “Tenho meus informantes”, brinca ele.

Segundo o autor, quando lido de cabo a rabo, qualquer jornal traz pelo menos
uma notícia maluca. Muitas vezes, são escritas com a clara intenção de causar estranheza, por seu caráter inusitado. Em outras, torna-se maluca por causa do
título ou da forma como a idéia é apresentada. Essas, na opinião de Bender são as mais divertidas, porque nem repórter nem editor se deram conta da bobagem publicada. Em todos os casos, as esquisitices são resultado de um mundo igualmente esquisito. “Você sabe quantas pessoas, nos últimos três anos,
tentaram pular o muro da cadeia para o lado de dentro? Pela minha coleção, de
oito a dez. Imagine quantas vezes isso aconteceu sem que fosse noticiado… Não
dá para ler uma coisa dessas sem ficar estarrecido. Esse tipo de coisa acontece
o tempo todo e ajuda a compor a espécie humana”, diz. Sem dúvida, merece no mínimo um estudo antropológico.