O termo vem do inglês: situation comedy (ou comédia de situação). Consagrado nos Estados Unidos, o formato conquistou o telespectador brasileiro a ponto de tornar os DVDs de Friends e Sexy and the city campeões de venda no País. As temporadas estreladas por Jennifer Aniston e Sarah Jessica Parker fizeram tanto sucesso por aqui que a tevê brasileira, nos últimos anos, começou a se aproximar do formato e emplacou similares como Sai de baixo, A grande família e Os normais. Mas o uso de cenas externas, a falta de claques (risadas e palmas entre cenas) ou a gravação em teatro descaracterizavam o estilo americano. Agora, pela primeira vez, estão sendo gravados no Brasil episódios-piloto dos pioneiros no formato, a cargo da Picante Pictures, produtora de Miami voltada para o público latino residente nos Estados Unidos. No ano passado, os sócios David Morales e Scott Wood decidiram voltar ao País, onde haviam trabalhado nos anos 90, e promover um workshop para roteiristas interessados nos segredos das sitcom. “Doze continuaram no projeto, de escritores a rappers. Essa mistura fica nítida nos diálogos, superdivertidos e autênticos”, elogia Morales.

O resultado começa a ser oferecido às emissoras Globo, SBT e Record. A principal característica das duas séries, Jornal Feliz e Mano a mano, é a presença de negros e pobres nos papéis principais. Os dois primeiros episódios de Jornal Feliz foram dirigidos pela americana Debbie Allen (da série Um maluco no pedaço, exibido pelo SBT). Conta a história de Jorge, um ator de comerciais que mora na Cohab com a família e, de repente, se torna o primeiro apresentador negro da tevê. Luciano Quirino, 38 anos, que atuou em filmes e novelas como Carandiru e Laços de família, interpreta pela primeira vez um personagem cômico. “O cotidiano do negro é visto com lente de aumento. Jorge morre de ciúme da filha de 13 anos, tem um amigo xavequeiro, deixa de pagar a conta de luz e sofre para se adaptar ao novo emprego, tão diferente do bar do Keka e das rodas de pagode que ele frequenta”, diz o ator.

Em Mano a mano, o enredo é clássico: Marcos (Rafael Maia), um playboy branco e rico, fica na miséria após a morte do pai e passa a morar de favor em um barraco. Na favela, ele descobre um irmão, Robinho, interpretado por Silvio Guindane, 20 anos, protagonista do aclamado De passagem, eleito o melhor filme na última edição do Festival de Gramado. A dupla vive aos tabefes. “Meu personagem tem uma rádio comunitária junto com o amigo Jonas (Leandro Firmino). Ele é muito engraçado, mas nunca deixa de lado a ética e a dignidade. O maior trunfo do programa é mostrar o negro em seu mundo, ouvindo hip hop e samba e participando da vida na comunidade”, elogia Guindane. Leandro Firmino, o sanguinário Zé Pequeno do festejado Cidade de Deus, faz coro: “O Jonas é parecido com um monte de gente que eu conheço. É um negro engajado, que curte rap e está sempre falando sobre os problemas do mundo.” É esperar para ver.