Na terça-feira 6, a Polícia Federal começou a desmontar uma das maiores quadrilhas de adulteração de combustível do País, que agia por meio da empresa Lughar Óleo. A empresa distribuía 500 mil litros diários do combustível, que eram enviados a cerca de 500 postos de abastecimento dos municípios do Rio de Janeiro, da Baixada Fluminense e da Região dos Lagos. Em um depósito no quilômetro 278 da rodovia Presidente Dutra, em Barra Mansa, a PF apreendeu 19 carretas-tanque. Só o depósito movimentava mensalmente 12 milhões de litros de gasolina, 7,6% de todo o volume vendido no Estado, no mesmo período. O dono da empresa, José Maria da Cruz, não estava no local. Segundo a polícia, Luiz Guilherme Cruz, presidente do PMDB de Barra Mansa, também é sócio do “negócio”. A família era dona de outro depósito clandestino fechado há dois meses, que funcionava a cinco quilômetros de distância, na mesma rodovia. Foram detidas 26 pessoas e até o fim da semana permaneciam presos um gerente e três funcionários, respondendo por crimes de adulteração de combustível, sonegação de impostos, formação de quadrilha, crime ambiental e por colocar em risco a vida de terceiros.

A descoberta do megadepósito em Barra Mansa ocorre no momento em que ISTOÉ publica uma série de reportagens sobre a Operação Ouro Negro da Polícia Federal, que liga outro grande fraudador de combustíveis, Amadeu Moreira Ribeiro de Carvalho, a autoridades do Judiciário e do Executivo federal. Ele é dono da Sul Americana Distribuidora de Petróleo e da American Distribuidora de Combustíveis, em nome da ex-mulher, e de diversos postos de gasolina no Rio. O processo reúne documentos, disquetes e computadores apreendidos, além de centenas de horas de conversas telefônicas gravadas em 2001. Em outra operação, batizada de 1.203 (código internacional para designar a gasolina), realizada em março deste ano em seis Estados e no Distrito Federal, a PF prendeu 15 suspeitos de integrarem uma máfia nacional de adulteração de combustíveis e sonegação. Entre os presos estavam dois empresários do setor, policiais rodoviários federais, policiais civis, fiscais da Receita estadual no Rio e até um fiscal da Agência Nacional de Petróleo (ANP). Segundo o delegado José Milton Rodrigues, superintendente da PF no Rio, um inquérito policial vai examinar as conexões entre o grupo de Barra Mansa e de outros municípios. “Queremos saber se há conexões com as quadrilhas desbaratadas nas operações Ouro Negro e 1.203”, informou.

No mesmo dia em que a PF estourou o depósito da Lughar Óleo, a Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco) da Polícia Civil encontrou mais indícios da máfia de adulteração de combustíveis no Rio. Foram encontradas cinco mil notas fiscais em branco em nome da Oásis Distribuidora de Petróleo Ltda. na sede da empresa, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense. Também foram apreendidos lacres para tanques de caminhões. Segundo o Ministério Público e a PF, o País perde R$ 10 bilhões por ano em sonegação e fraude. Os cálculos da ANP indicam que cerca de 5% da gasolina e 14% do álcool no mercado do Rio hoje estão fora dos padrões. A polícia acredita que, de gota em gota, está drenando uma das maiores fontes de fraudes no País.