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MÍSTICA
A devoção popular ao falecido
papa polonês já é uma realidade

João Paulo II (1920-2005) já entrou para a história como o mais importante e influente papa entre os oito que estiveram à frente da Igreja Católica no século XX. Em 26 anos de pontificado, o polonês Karol Wojtyla acendeu e promoveu o diálogo inter-religioso, apaziguou nações em conflito e foi decisivo na abertura das nações socialistas, só para citar alguns exemplos. Além do inegável protagonismo político, ele deixou o conforto do Vaticano e pregou pelo mundo, fazendo mais de 100 visitas pastorais internacionais. Também se aproximou dos meios de comunicação, que se encantaram pela figura de carisma inato. Seis anos após sua morte, Wojtyla faz história novamente, ao se tornar o candidato a santo alçado a beato em tempo mais rápido na Igreja moderna – oficialmente em maio deste ano. Também será a primeira vez que um sucessor, no caso Bento XVI, poderá canonizar um predecessor. “Foi um processo muito rápido”, reconhece a irmã Célia Cadorin, responsável pelas causas dos dois únicos santos brasileiros, Madre Paulina e Frei Galvão. “Mas ele merece ser tratado como exceção”, sentencia ela, que conheceu o sumo pontíficie pessoalmente.

Austero e exigente, o primeiro papa não italiano desde 1523 tinha o costume de se mortificar com jejuns rigorosos, se flagelar com uma cinta de couro e dormir no chão frio dos quartos que ocupava. Como São Francisco de Assis (1181-1226) e Santa Catarina de Siena (1347-1380), ele acreditava que o sofrimento purificava e o deixava mais próximo da dor de Cristo e dos que sofriam com a fome, a dor e o frio. João Paulo II também era obcecado por sua missão. Além das viagens pastorais, foi autor de uma enorme produção teológica, com encíclicas, cartas apostólicas e livros. “É o maior missionário que tivemos no século passado e um homem com fama de santo em vida”, explica dom Dimas Lara Barbosa, secretário-geral da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). “Muita gente já invocava o nome dele em preces antes mesmo de sua morte.”

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MILAGRE
Irmã Marie Simon curou-se da doença de Parkinson
depois de invocar João Paulo II

Foi por meio dessas invocações que veio o primeiro milagre oficial atribuído a ele. Acometida pela doença de Parkinson, a freira francesa Marie Pierre Simon pediu a intercessão de João Paulo II na noite do dia 2 junho de 2005, menos de dois meses depois da morte do sumo pontífice. Incapaz de andar ou escrever, ela rezou para ser curada da doença degenerativa. Na manhã do dia 3 acordou bem, com todas as habilidades motoras recobradas. Mas, para que o milagre fosse reconhecido pela Congregação para as Causas dos Santos, órgão dentro da Igreja que acompanha os processos de beatificação e canonização, a cura teria de ser perfeita, duradoura, inexplicável pela ciência e fruto da invocação exclusiva de João Paulo II. Entre 2007 e 2011 a suposta cura foi examinada por uma equipe de três peritos e cinco médicos, driblando a burocracia do Vaticano para ser declarada milagre em menos de sete anos.

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HISTÓRIA
Bento XVI (com João Paulo II) pode se tornar
o primeiro papa a canonizar seu predecessor

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Não é a primeira vez que a via expressa da canonização se abre – a beatificação é o último passo antes da santidade. Outros candidatos a santo, da Igreja medieval à Igreja moderna (leia quadro), também conseguiram essa proeza, fugindo assim do limbo dos arquivos esquecidos, onde algumas causas, como a do padre José de Anchieta, aguardam por decisões há mais de quatro séculos. Para a irmã Célia Cardorin, não há razão para desconfiar de processos velozes como o de João Paulo II. “Não houve favorecimento”, garante ela, que foi postuladora em Roma. “O que acontece é que figuras mais populares geralmente têm testemunhos de membros importantes do clero, além do apoio político de dignatários de vários países.” A documentação apresentada por causas como a de João Paulo II tende a ser mais robusta e os milagres atribuídos a ele, mais frequentes. Assim, o processo, corre de maneira rápida. “Nesse caso, encurtar o tempo não representa nenhum tipo de prejuízo”, reitera o padre Valeriano Costa, diretor da Faculdade de Teologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Tudo para colocar João de Deus, como ficou conhecido no Brasil, de novo nos altares. Dessa vez, como santo.

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