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APOIO Haitianos saudosos reverenciam Baby Doc
em Porto Príncipe
 

Em meio ao caos que toma conta do Haiti assolado pela cólera, o ex-ditador Jean-Claude Duvalier, o Baby Doc, decidiu retornar a Porto Príncipe depois de 25 anos de exílio. O desembarque ocorreu no domingo 16, coincidindo com a decisão do Conselho Eleitoral Provisório haitiano de adiar o anúncio oficial do resultado das eleições presidenciais, consideradas fraudulentas pela OEA. Tudo indica que o objetivo de Baby Doc é conseguir a anulação do pleito para que possa concorrer. “Precisamos agitar as coisas, de modo que novas eleições sejam organizadas”, disse o porta-voz e ex-embaixador do Haiti na França Henri-Robert Sterlin. O oportunismo político de Baby Doc pode desestabilizar ainda mais o país e criar problemas para a missão de paz da ONU, que é comandada pelo Brasil.

O comandante brasileiro das Forças de Paz no Haiti, general Luiz Guilherme Paul Cruz, não atacou diretamente a volta de Baby Doc. Mas se mostrou atento ao retorno do ex-ditador. “Não há possibilidade de que se instale uma ditadura no Haiti hoje. Qualquer coisa que seja feita fora das leis do país será veementemente condenada pela comunidade internacional.
Durante a semana, Duvalier ficou hospedado num hotel no bairro de Pétionville, distante uma hora do centro de Porto Príncipe. Ele chegou a ser detido por agentes da Polícia Nacional, a fim de prestar depoimento num processo em que é acusado de corrupção e assassinatos de civis – a antiga milícia ligada à família Duvalier, os Tonton Macoutes, é responsabilizada pela morte de 30 mil pessoas e o desaparecimento de outras 15 mil.

Mesmo tendo deixado o Haiti na mesma situação de miséria em que se encontra hoje, dezenas de simpatizantes de Baby Doc passaram a semana em frente ao hotel. “Há sempre essa saudade do tempo do governo dele”, afirma o embaixador brasileiro no Haiti, Igor Kipman. Para o diplomata, as conse­quências do retorno de Baby Doc dependerão do que ocorrer ao processo eleitoral. Na recontagem dos votos feita pela OEA, o segundo colocado deve ser o cantor Michel Martelly e não o candidato governista Jude Celestin. Um deles disputaria o segundo turno com a primeira colocada, a oposicionista Mirlande Manigat.

Se o Comitê Eleitoral Provisório haitiano decidir anular a votação, deverá convocar um novo processo eleitoral. A abertura para a inscrição de novas candidaturas pavimenta o caminho para Baby Doc. E não só dele. O ex-presidente Jean-Bertrand Aristide, deposto em 2004, já avisou que também pretende voltar ao país.

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