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Anos de abertura política no Brasil, explosão do rock nacional, a década de 80 também fez fogo e fumaça no campo das artes plásticas. Em “Anos 80 – Embates de uma Geração”, a crítica e curadora Ligia Canongia se debruça sobre a volúpia e a complexidade da geração de artistas que, entre outras façanhas, se notabilizou por abolir o chassi na pintura e que começou a praticar ações de pirataria muito antes da invenção da internet.

Ser pirata nos anos 80 tinha um sentido diverso da atual realidade sob as tecnologias digitais. No ensaio “O Brasil nos Anos 80”, Ligia sustenta que ser pirata era fundamentalmente deglutir e mixar referências contemporâneas, ao modo do espírito tropicalista da década de 70. O uso que Sergio Romagnolo fez da estética dos HQs, a apropriação que Leda Catunda fez de tapetinhos de banheiro como suporte da pintura ou mesmo a incorporação que Jorge Guinle faz de Matisse, Picasso, De Kooning e do surrealismo são bons exemplos da pirataria oitentista.

O livro traz uma coleção de textos da época, que dão ao leitor a chance de saborear o pensamento produzido no calor da hora, sempre em relação à análise rigorosa de Ligia Canongia, escrita com um recuo de 30 anos. Com propriedade, a autora revisa momentos-chave da década, como o reaparecimento de uma pintura passional e expressionista na mostra “Aperto 80”, paralela à Bienal de Veneza de 1980, ou a polêmica internacional que envolveu a “Grande Tela”, de Sheila Leirner, na Bienal de 1985. A iniciativa curatorial de juntar as telas de artistas brasileiros e estrangeiros em um só conjunto “antididático, anti-historicista e anárquico” foi tachado de ditatorial e viria a inaugurar a atual era dos “supercuradores”.

Sem a pretensão de definir um “espírito dos anos 80”, a autora mostra-se mais interessada em anotar seus embates. Embora pontue que a década foi marcada por um avanço tecnológico, suas escolhas confirmam o que já se tem convencionado: os anos 80 trouxeram o “retorno à pintura”, após uma década de arte cerebral. “É o momento em que a imagem tomara o lugar do conceito.”