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Em relação aos canhotos já houve muito preconceito quando a ciência, então nas trevas, classificava normalidade e anormalidade a partir de características motoras – e os julgava "não normais". Quantos pais não deram cascudos em seus filhos teimando que eles tinham de começar a escrever com a mão direita quando, naturalmente, essas crianças passavam o lápis para a mão esquerda e dessa forma se davam muito bem no aprendizado da escrita? Começouse a derrubar esse preconceito quando a ciência passou a indagar: quantos gênios canhotos a humanidade já não produziu? Respondendo rapidamente: o físico Albert Einstein, o escritor Machado de Assis e o piloto de Fórmula 1 Ayrton Senna. Falou- se da ciência nas trevas. Falemos agora da ciência nesses tempos atuais da grande iluminação da genética – mais precisamente de um time de ponta de geneticistas da Universidade de Oxford que identificou o gene (LRRTM1) como responsável pelo fato de alguém ser canhoto. É a esse gene que compete "dizer" que partes do cérebro controlam funções específicas. Em pessoas destras, por exemplo, o lado esquerdo do cérebro é responsável pela fala e pela linguagem enquanto o lado direito controla as emoções. Em canhotos, muitas vezes ocorre o oposto. Os cientistas de Oxford avaliam que o LRRTM1 tem a ver com essa inversão. Mais: os canhotos processam a linguagem usando ambos os hemisférios do cérebro e isso significa que eles têm uma ligeira vantagem nos esportes em geral e nas demais atividades em que existam muitos estímulos simultâneos. Motivo: eles podem usar mais facilmente ambos os hemisférios do cérebro para gerenciar esses estímulos, resultando em processamento e tempo de resposta mais rápidos. Juntamente com a boa notícia genética veio outra não tão alvissareira – mas que não deve ser considerada alarmante em momento algum. O mesmo gene que "faz" alguém ser canhoto pode, também, levar essa pessoa a desenvolver doenças psicóticas como a esquizofrenia – o que não quer dizer que canhotos (são dez por cento da população mundial e sobretudo homens) se tornarão necessariamente psicóticos. Segundo os cientistas da Universidade de Oxford, os próprios avanços da genética e a possibilidade de a ciência "manipular" genes já são um grande anteparo para o desenvolvimento de doenças e não há motivos para temores e novos estigmas – mesmo porque a incidência de psicose não é menor entre os destros. Assim, na conta geral, o canhoto agora sai ganhando: a ele se associa diretamente agora o gene de uma maior habilidade e mais criatividade.


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