SÃO PAULO, 7 JUL (ANSA) – Por Beatriz Farrugia – O Reino Unido relembrou nesta sexta-feira (7) o aniversário de 12 anos da série de atentados terroristas ao metrô de Londres. Conhecido como “7/7”, o ataque foi cometido por quatro extremistas islâmicos e deixou 56 mortos, incluindo os agressores, e 700 feridos. Mais de uma década depois daquele 7 de julho, o terrorismo voltou a apavorar a rotina dos ingleses. Somente neste ano, o Reino Unido foi palco de três atentados de grande proporção e de outros incidentes violentos. O primeiro ocorreu em 22 de março, quando um homem atropelou pedestres na ponte de Westminster, perto do Parlamento, em Londres. Cinco pessoas morreram, além do agressor.   

O segundo foi na noite de 22 de maio, durante o show da cantora americana Ariana Grande, em Manchester. Um homem-bomba detonou os explosivos ao fim da apresentação, deixando um saldo de 22 mortos e 116 feridos.   

Duas semanas depois, em 3 de junho, nove pessoas morreram e 20 se feriram em um ataque que começou com um atropelamento em massa na London Bridge e continuou no Borough Market, onde civis foram esfaqueados.   

Depois disso, um homem dirigindo um furgão atropelou dezenas de pessoas diante de uma mesquita em Londres, como retaliação aos atentados islâmicos. Outro foi detido perto do Palácio de Westminster, novamente, com uma faca.   

Para a especialista em terrorismo e segurança da Universidade britânica de Lancaster, Evan Jean Lawrence, a série de atentados que acometeu o Reino Unido no primeiro semestre de 2017 foi uma “fatalidade”. “Não é algo exclusivo do Reino Unido, isso também aconteceu e ainda acontece na França, na Bélgica”, disse a especialista em entrevista exclusiva à ANSA.   

“As forças de segurança estão fazendo o melhor que podem, o problema está nas decisões políticas, governamentais”, admitiu Lawrence. Para o também especialista em contraterrorismo André Lajst não existe uma justificativa única para o Reino Unido ter entrado novamente na mira de terroristas, mas a Inglaterra se tornou um alvo mais forte desde que a primeira-ministra, Theresa May, formou seu governo com posições conservadoras.   

“Eventualmente, a ideologia do grupo ‘Britain First’, que é mais radical, vem crescendo, ganhando mais voz, e provoca reações contrárias. Mas não é algo específico dos últimos seis meses, nem da Inglaterra, poderia ser em qualquer lugar da Europa”, disse Lajst. Além do posicionamento conservador do governo, outro fator que acentua o extremismo é a proximidade do Reino Unido com a política externa dos Estados Unidos. “A Inglaterra sempre foi um dos maiores aliados dos EUA desde a 2ª Guerra Mundial, e apoiou George W. Bush. Isso criou um forte legado antibritânico, principalmente no Iraque”, comentou o professor de relações internacionais do Centro Universitário Belas Artes Sidney Ferreira Leite.   

Nesse sentido, cidadãos nascidos no próprio Reino Unido também se radicalizaram e se mudaram para a Síria com o intuito de lutar ao lado do Estado Islâmico. Dados de serviços de segurança apontam que ao menos 800 britânicos já atuaram na guerra civil local. Com as derrotas recentes do EI pelas forças internacionais e pelo Exército do presidente sírio Bashar al-Assad, muitos tiveram que voltar para casa. “Não significa que eles vão cometer atentados, mas, às vezes, alguns formam redes, organizações, defendem as ideias extremistas, os conceitos da jihad e promovem o Estado Islâmico, radicalizando outras pessoas”, afirmou Leite.   

Ao longo do semestre, as autoridades britânicas abriram investigações internas para apurar se os serviços de Inteligência falharam na prevenção dos atentados. Porém, de acordo com os especialistas entrevistados pela ANSA, a nova forma de terrorismo formalizada pelo Estado Islâmico é potencialmente mais difícil de prevenir. Se antigamente a Al-Qaeda planejava por meses seus atentados e mantinha majoritariamente os EUA e representações governamentais como alvo, hoje o EI radicaliza pessoas via redes sociais e promove atentados rudimentares, com facas, bombas caseiras e carros, em zonas públicas, restaurantes, bares e parques.   

Outra grande diferença está na organização territorial. A rede de Osama bin Laden não tinha uma área de domínio e governança, apenas vivia em países e regiões onde recebia refúgio. Já o EI, ao conquistar cidades na Síria e no Iraque, angariou apoio de muçulmanos que se sentiam reprimidos em sociedades ocidentais.   

“Muitos muçulmanos pensam ‘não sou iraquiano, mas não sou inglês’, e vivem em um ‘gap’, não se sentem parte da sociedade.   

Essas pessoas encontraram no Estado Islâmico uma causa, um território”, comentou Lajst.   

Um combate eficiente a esta nova forma de terrorismo incluiria uma maior integração das agências de segurança, assim como mudanças de posições governamentais e na própria sociedade.   

Porém, para Lajst, o cenário ideal está longe de se tornar realidade.   

“Esse é o grande dilema dos países ocidentais, que tentam evitar atentados, mas são democracias e precisam manter seus princípios democráticos. A lei é igual para todos. Aplicar uma lei para um cidadão muçulmano é igual aplicar a lei para um judeu, um cristão, qualquer outra pessoa”, disse Lajst.   

“Se houver uma integração mais efetiva dos serviços de Inteligência de vários países, será algo positivo. Mas é muito complexo para acontecer. Para distinguir uma eventual autorização judicial ou extrajudicial para uma escuta no celular de alguém, por exemplo, geraria conflito”, afirmou. “Não existe uma fórmula mágica. Quanto mais você monitorar, mais você tira a liberdade. E, se você monitora menos, terá mais atentado. Não há uma solução perfeita para resolver essa equação”, finalizou o especialista em contraterrorismo. (ANSA)