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CAMAQUÃ
A corveta escoltou mais de 700 navios durante a Segunda
Guerra. Sucumbiu a uma onda gigante em 1944
 

Repousam no fundo do mar, na extensa costa brasileira, cerca de 20 mil carcaças de navios, transatlânticos, cargueiros e galeões que sucumbiram em desastres marítimos nos últimos seis séculos. Deste vasto ferro-velho submarino, 1.895 embarcações (ou o que restou delas) são conhecidas e catalogadas pela Marinha, e hoje constituem verdadeiros santuários ecológicos, hábitat natural de uma centena de espécies marinhas e pontos turísticos que atraem aventureiros de todo o mundo. Muitos desses navios guardam histórias trágicas ou permanecem mergulhados em grandes mistérios. Com o objetivo de investigar e trazer à tona a trajetória desses soçobros, o pesquisador José Carlos Silvares – expert no tema –, um grupo de mergulhadores especializados em naufrágios e o fotógrafo subaquático Fernando Clark viajaram o País ao longo de dois anos para recolher informações e captar imagens inéditas, agora reunidas na publicação “Naufrágios do Brasil – Uma Cultura Submersa” (Editora CulturaSub).

Um dos precursores nessa área é Carlos Alfredo Ha­blitzel, responsável pelo Museu Histórico e Naval de São Vicente, no litoral paulista, pioneiro no Brasil da pesquisa histórico-subaquática. A mergulhadora especializada em naufrágios Ana Carolina Xavier, que viaja o mundo para conhecer navios submersos, afirma que há uma lacuna no Brasil no que diz respeito ao contexto histórico dessas tragédias marítimas. “É comum você visitar um naufrágio e ir embora sem ter nenhuma informação sobre como ele aconteceu, quando e por quê”, diz ela. O livro resgata o que aconteceu em 35 casos, escolhidos pelo interesse histórico e arqueológico. O transatlântico Príncipe das Astúrias, que afundou na região de Ilhabela (SP) em 1916, é considerado ainda hoje o “Titanic brasileiro”. Cerca de 600 pessoas morreram, entre elas Luis Descotte, avô do escritor argentino Julio Cortazar.

Durante os séculos XIX e XX, Ilhabela era uma espécie de Triângulo das Bermudas, isso em razão da atração exercida pelo grande bloco rochoso do arquipélago nos controles náuticos. “A região atraiu mais naufrágios que outras. Ali ocorreram mais de 20. Mas Ilhabela é a metade do caminho da rota entre Rio de Janeiro e Santos, dois dos mais importantes portos desde a época do império e, portanto, uma área de grande movimentação marítima”, diz Silvares. Recife, Salvador, Florianópolis e a entrada de Rio Grande são as regiões onde mais ocorrem acidentes por causa do grande número de ilhas e arrecifes. Outra história curiosa, que envolve a disputa amorosa entre dois marinheiros, é a dos navios Bahia e Pirapama, que se chocaram em 24 de março de 1887, perto do Recife. O primeiro vinha do Ceará e o outro saía do Recife, em direção ao Norte. O imediato do Bahia percebeu que as duas embarcações estavam em rota de colisão e avisou com sinais sonoros, mas não deu tempo de reverter o acidente. Das 200 pessoas a bordo do Bahia, 52 morreram. Uma das causas alardeadas na época é de que os capitães dos navios eram desafetos e vinham disputando o amor de uma mesma mulher. E a colisão teria sido proposital. O comandante do Pirapama foi preso sob a acusação de ter provocado o acidente. Tornou-se o vilão da história. A tragédia virou poesia escrita por Manoel Segundo Wanderley.

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