FOTO: GILBERT GARCIN

Um dos principais temas do Ano da França no Brasil é o histórico e profícuo intercâmbio cultural entre os dois países. Ele está sendo retratado – e, agora, de forma inédita – na exposição "Oui, Brasil", em cartaz no Museu Brasileiro da Escultura (MuBE), em São Paulo (até o dia 6 de agosto). Como parte das comemorações oficiais, trata-se de uma mostra multidisciplinar que nos permite verificar, por meio de diferentes manifestações artísticas – incluídas as do design -, de que forma se deu essa troca de informações entre as duas nações. Além de fotos, pinturas e esculturas, quem visitar a mostra também poderá apreciar uma coleção de frascos de perfumes dos séculos XIX e XX, modelos clássicos da alta-costura francesa reproduzidos pelo estilista brasileiro Samuel Cirnansk e automóveis lançados entre as décadas de 1930 e 1960 pela montadora Citroën. "Essa exposição reflete toda a complexidade da cultura francesa e a sua importância para o Brasil, tanto no diálogo quanto na influência direta sobre a nossa produção artística atual", diz o curador Jacob Klintowitz, diretor cultural do MuBE.

Entre as obras selecionadas está uma rara coleção de trabalhos de Jean Cocteau, artista francês cujo interesse multifacetado o tornou um dos mais importantes do século XX.

As fotos de Gilbert Garcin exibem cenas absurdas, com clima surrealista (acima)

O material inclui estudos para a peça "A Dama e o Unicórnio", correspondências, desenhos, fotografias e cerâmicas. Como complemento, acontece a exibição de três de seus sete filmes – "A Bela e a Fera", "Orfeu" e "Sangue de um Poeta". No campo da fotografia, a "Oui, Brasil" traz pela primeira vez ao País 80 obras do francês Gilbert Garcin. Artista tardio que iniciou sua carreira aos 63 anos, ele segue uma linha surrealista e coloca-se sempre como o personagem principal de suas próprias imagens. O trabalho, em preto e branco, é resultado de montagens e retrata um cenário de situações impossíveis. Ao lado de Garcin, o também francês Xavier Roy é representado com 32 registros feitos nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, quando imprimiu um ponto de vista muito pessoal sobre os trópicos.

FOTO: GILBERT GARCIN

PINTURA
"Galo", tela de Émile Tuchband, que trabalhou com Chagal

FOTO: GILBERT GARCIN

PASTEL

Obra de Jean Cocteau, uma das raridades da exposição

FOTO: GILBERT GARCIN

ESCULTURA
Trabalho de Caciporé Torres, feito em ferro e aço

Tais impressões particulares também estão presentes na produção pictórica de Émile Tuchband, pintor que saiu da França para viver no interior de São Paulo.

"Ele foi assistente de Marc Chagall na elaboração do teto da Ópera de Paris e criou uma obra de cromatismo expressivo que retrata o cotidiano de uma maneira alegre. Sua pintura envolve memórias de sua vida europeia e a relação de profunda empatia que manteve com o Brasil", diz Klintowitz. Único artista de origem brasileira na exposição, o escultor Caciporé Torres fez o caminho inverso. Ele deixou o Brasil para estudar história da arte na Universidade de Sorbonne, em Paris, onde se voltou para peças tridimensionais. Feitas com materiais pesados como o ferro e o aço, exibem um visual áspero, mas não menos expressivo.