Sempre magra e vestida de preto, andar rebolante e a segurança de ser tratada como gênio por ter levado às alturas os índices de audiência da rede de televisão onde trabalha, a executiva Joanna Eberhart (Nicole Kidman) parece uma personagem dos famigerados reality shows que produz. Até que um dos participantes destes programas, enlouquecido depois de ver a mulher recusar o prêmio e se render à tentação de trocá-lo por um ator pornô, faz seu mundo desabar. Ela é demitida, entra em crise depressiva e abala o casamento com o também executivo Walter Kresby (Matthew Broderick), que, em solidariedade, se demite da mesma empresa e propõe que se mudem com os filhos de Manhattan para um condomínio superexclusivo no subúrbio de Stepford, Connecticut. Stepford é um paraíso na sua ordem e beleza. Parece uma Montecarlo acrescentada de toda a histeria de perfeição do americano médio. Suas mulheres são lindas, quase todas loiras e impecavelmente bregas nos seus vestidos que não amassam nem quando fazem ginástica aeróbica imitando os movimentos de uma máquina de lavar roupa. Não poderia haver melhor trama para o diretor Frank Oz – acostumado a brindar o público com comédias deliciosas do tipo Será que ele é? e A pequena loja de horrores – desenvolver seu thriller cômico Mulheres perfeitas (The Stepford wives, Estados Unidos, 2004), em cartaz nacional na sexta-feira 30.

Refilmagem da obra de 1975, baseada no best seller de Ira Levin, Mulheres perfeitas é uma das mais ácidas e inteligentes críticas ao modo de vida americano. Usando de muito humor, Oz mostra a idealização masculina em relação à mulher e – por que não? – a de muitas mulheres em relação a si próprias. Em Stepford, a perfeição é tão grande que leva Joanna – já recuperada do choque pelo choque de ver tanta felicidade de comercial de margarina –, a escritora Bobbie Markowitz (Bette Midler, engraçadíssima) e o arquiteto gay Roger Bannister (Roger Bart) a desconfiarem que algo nada normal está por trás daquela normalidade. São oportunidades para Oz lançar farpinhas afiadas nas grandes empresas, destilar ironias contra a moral americana, criar um certo suspense e divertir o espectador. Para encarnar tipos tão específicos, o diretor escolheu atores à altura. Glenn Close, a pérfida de prontidão, faz par com o cínico Christopher Walken, casal anfitrião de uma sociedade que serviria de exemplo no futuro. Só que nem sempre uma redoma colorida é tão emocionante quanto os contratempos acinzentados da realidade.