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O governo de união do Líbano entrou em colapso, após a demissão apresentada pelo décimo-primeiro ministro, ligado ao presidente da República, que acompanhou os outros dez do Hezbollah e de seus aliados, anunciou nesta quarta-feira a Agência Nacional de Informação libanesa.

O governo, que conta com 30 ministros, entra em crise se mais de um terço de seus ministros se retirar (neste caso, 11), segundo a Constituição libanesa. Mais cedo, os dez ministros do Hezbollah e de seus aliados políticos apresentaram sua renúncia do governo de Saad Hariri, devido à investigação do tribunal da ONU sobre o assassinato do ex-primeiro-ministro Rafic Hairri, pai do atual chefe de governo.

O Hezbollah, temeroso de que alguns de seus elementos sejam acusados pelo Tribunal Especial para o Líbano pelo assassinato, em 2005, de Hariri, havia dado um prazo de "algumas horas" ao governo de Saad Hariri para tomar uma decisão sobre esta "corte que divide o país".

A existência do tribunal, que divulgará em breve sua acusação por este assassinato, era motivo de uma dura luta, há meses, entre Hariri, que defende sua investigação, e o partido xiita, que acusa a instância de "estar a serviço de Israel e dos Estados Unidos" e de se basear "em falsos depoimentos".

A queda do governo ocorreu no momento mesmo em que Saad Hariri, que realiza uma visita aos Estados Unidos, era recebido pelo presidente americano, Barack Obama, no Salão Oval da Casa Branca. 

A figura de Saad Hariri

Pouco atraído pela política quando jovem, Saad Hariri, filho e herdeiro político do dirigente libanês Rafic Hariri, foi designado em junho de 2009 primeiro-ministro, quatro anos após o assassinato do pai. Saad Hariri, cujo governo entrou em colapso nesta quarta-feira, resistiu até o fim a pressões do poderoso Hezbollah para que renegasse uma investigação sobre a morte.

Em seu confronto com o partido xiita, acusado de envolvimento no assassinato, o jovem dirigente (40 anos), enfrentou uma "escolha corneliana": optar por esquecer o sangue derramado de seu pai "pela estabilidade do país" ou insistir até o final para que a justiça fosse feita. Empregou toda sua energia na busca dos autores do ataque e considerou "histórica" a criação do Tribunal Especial para o Líbano (TSL), encarregado do assunto, recusando-se a ceder, com seus partidários considerando o compromisso com a verdade um suicídio político.

Com a queda do governo causada pela demissão dos ministros do Hezbollah e de seus aliados, que acusam o TSL de estar "a soldo de Israel e dos Estados Unidos", ele poderá ser renomeado primeiro-ministro, uma vez que dispõe de maioria parlamentar, mas encontrará, certamente, grandes dificuldades para formar um novo governo.

Desde o assassinato do pai, no dia 14 de fevereiro de 2005 em Beirute, num atentado com carro-bomba que mudou drasticamente a vida política libanesa, Saad Hariri, dedicou-se à busca dos autores do ataque. Até então, Saad Hariri era um empresário radicado em Riad, onde sua família mantém boas rellações com a família real saudita.

Ele assumiu o legado político do pai no lugar de seu irmão mais velho. O jovem líder herdou uma poderosa máquina política, e o enorme capital de fervor popular que se manifestou no Líbano após o assassinato de Rafic Hariri. As campanhas eleitorais de 2005 e 2009 ressaltaram sua proximidade com o povo, que sempre compareceu em número a seus eventos públicos.

Quando seu movimento ganhou as legislativas, em junho de 2005, ele recusou o posto de primeiro-ministro, ficando apenas com o cargo de líder da maioria parlamentar. Tornou-se um dos mais ferrenhos detratores do presidente libanês da época, Emile Lahud, próximo da Síria e que teve alguns de seus principais colaboradores presos por quatro anos e libertados em abril de 2009, entre os suspeitos de terem participado indiretamente do assassinato de Rafic Hariri. Deixando a gestão do poder ao primeiro-ministro Fouad Siniora, um fiel escudeiro de seu pai, ele percorreu o mundo, sendo recebido pelos dirigentes estrangeiros – sobretudo americanos – como um chefe de Estado.

Entre 2005 e 2007, quando se multiplicaram os assassinatos contra personalidades anti-sírias, ele ficou fora do Líbano a maior parte do tempo, limitando suas aparições públicas. Ele não duvidou em chamar o poder sírio de "regime de assassinos", o que lhe valeu a acusação formulada pelo presidente da Síria, Bachar al-Assad, de ser o "lacaio" dos ocidentais.

Considerado o arquiteto da reconstrução do Líbano após anos de guerra civil (1975-1990), Rafic Hariri sempre teve o cuidado de manter sua família longe da vida pública, para prevenir qualquer acusação de nepotismo. Saad Hariri, que também tem a naacionalidade saudita, dirigia a Ryad Saudi Oger, a empresa de construção que fez a fortuna de seu pai.

Formado em economia na universidade americana de Georgetown (Washington), ele é casado com Lara Bachir Azm, cuja família exerceu o poder na Síria nos anos 50. O casal tem dois filhos. A revista Forbes avaliou a fortuna de Saad Hariri em 1,4 bilhão de dólares.