12/01/2011 - 19:24
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“Nesse sistema, você ganha uma competição todo dia, e não só lá na frente [em etapas eliminatórias]. No mata-mata existe o imponderável: uma falha do goleiro ou um erro de arbitragem podem definir uma classificação”, afirma o treinador do Fluminense, Muricy Ramalho, conhecido como o “rei dos pontos corridos”.
Seguindo a fórmula consagrada nos principais campeonatos nacionais europeus e sul-americanos, o Brasil adotou o sistema em 2003. Desde então, planejar a temporada ficou mais fácil para os clubes. Embora ressalte que tenha conquistado parte de seus títulos em competições no formato mata-mata, em que há jogos eliminatórios nas fases finais, Muricy tem na ponta da língua receitas de um time bem-sucedido no novo sistema.
Flamengo, campeão de 2009 após arrancada sensacional
“Eu acho que a primeira coisa a ser destacado nos pontos corridos é o planejamento do plantel, que precisa ser muito bom não apenas em quantidade. O campeonato é muito longo, exige muito do atleta. Outros fatores são logística, viagens, recuperação dos jogadores, dirigentes comprometidos”, acrescenta o treinador, que ganhou três títulos brasileiros com o São Paulo (2006, 2007 e 2008), um vice com o Internacional (2005), e uma taça com o Fluminense (2010) desde o início do sistema.
Fluminense, vencedor da competição no ano passado
O atual comandante do Tricolor carioca também é o que mais rodadas acumulou na liderança do torneio no período: em novembro deste ano chegou a 102, de 320 possíveis.
Mas nem sempre foi assim. Um ano antes da adoção dos pontos corridos no Brasileirão, por exemplo, o São Paulo encerrou a primeira fase (antes dos mata-matas) na liderança, com 52 pontos, 13 pontos a mais que o Santos, que conquistou a última das oito vagas na etapa final. Comandado pela dupla Diego e Robinho, o time da Vila Belmiro acabou eliminando o Tricolor nas quartas de final e se tornou campeão daquele ano.
Ainda com Robinho, o clube alvinegro conquistou novamente o título em 2004, já na era dos pontos corridos. Nesse meio tempo, no entanto, o país conheceria o time com melhor desempenho na nova fórmula: o Cruzeiro, vencedor em 2003 com 100 pontos e 102 gols marcados, recordes até hoje. Comandada por Vanderlei Luxemburgo, a equipe de Belo Horizonte ainda conquistou a Copa do Brasil e o Estadual de Minas Gerais no mesmo ano, ganhando a “Tríplice Coroa”. Completam a lista de campeões no novo sistema de disputa os dois clubes mais populares do país: Flamengo (2009) e Corinthians (2005).
Roger (à esq.), do Cruzeiro, vice em 2010
Um grande trunfo dos pontos corridos é a disputa por diferentes objetivos. Além do título, as equipes duelam por vagas na Libertadores, na Copa do Sul-Americana ou na dramática batalha para escapar do rebaixamento.
O Pacto da Bola, firmado em 2001, simboliza o pontapé inicial para essas mudanças. Resultado de esforços do Ministério do Esporte, da CBF, do Clube dos 13, de Pelé, do ex-presidente da Fifa João Havelange e de outras lideranças, o acordo estipulava um calendário quadrienal e previa a regulamentação para que equipes não disputassem mais de dois jogos por semana.
Desgaste em dobro
A organização do calendário também melhorou. Os mais novos praticamente não conheceram o tempo em que um time entrava em campo até quatro vezes por semana. Ou mesmo que ficasse ocioso por até dois meses, acumulando prejuízos. O ex-atacante Jamelli, que foi gerente de futebol do Santos, defendia o São Paulo em 1994, ano em que a equipe paulistana chegou a jogar duas vezes no mesmo dia, pelo Campeonato Brasileiro e pela antiga Copa Conmebol, no Morumbi. Era o “expressinho Tricolor”, time formado por atletas mais jovens.
No primeiro torneio, enfrentou o Grêmio, e, no segundo, o Sporting Cristal, do Peru. Venceu as duas partidas por 3 a 1. “No total, acho que fizemos 90 partidas naquele ano. O Juninho Paulista chegou a entrar em campo nas duas vezes no mesmo dia”, lembra Jamelli, que diz ter se acostumado à disputa por pontos corridos na Europa e no Japão.
“Eu joguei muito por lá e isso faz parte da cultura deles. Acho que o Brasil hoje está na fórmula ideal. São oito meses de competição em pontos corridos e uma Copa do Brasil no sistema mata-mata. Quem não está na Copa do Brasil está na Sul-Americana ou na Libertadores”, diz o ex-dirigente santista.
Oscar, do Inter, que chegou a brigar pelo título em 2010
E não são apenas jogadores, técnicos e cartolas que passaram a se planejar melhor para a disputa da temporada. Com a certeza de que seu time vai jogar até dezembro no Brasileirão, o torcedor pode se programar com grande antecedência para assistir aos jogos ou mesmo comprar ingressos para todas as partidas de uma só vez, aproveitando ainda descontos ou promoções.
Regularidade
Além de planejamento, regularidade é palavra de ordem desde 2003. É quase unanimidade entre boleiros e analistas que o time que mais apresentar essa característica fica com o título. O matemático Tristão Garcia, por exemplo, define que “o sistema de pontos corridos premia o time mais regular”. Isso significa um campeonato sem emoção? Não, definitivamente. O Brasileirão atual também reserva surpresas.
O Flamengo protagonizou no campeonato de 2009 uma arrancada espetacular rumo ao título. Nas duas primeiras rodadas, esteve na zona de rebaixamento. A dois meses do término do Brasileirão, dez pontos o separavam do líder Palmeiras. A ponta da tabela só foi conquistada no penúltimo jogo, garantindo à equipe carioca a possibilidade de depender apenas de si no desfecho do campeonato, contra o Grêmio, em um Maracanã lotado com mais de 80 mil torcedores.
Ainda segundo o matemático, “à medida que vai afunilando, cada jogo do torneio é importante, mais decisivo, e as probabilidades obedecem a essa tendência”. São times brigando por vários objetivos. Com torcidas vibrando com taça, vaga na Libertadores ou alívio de escapar do rebaixamento. No fim das contas, uma coisa é certa: a implementação de um formato de disputa mais justo não acabou com a emoção no Brasileirão, cada vez mais marcado pelo sistema dos pontos corridos.
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