JIMI HENDRIX tocou o hino nacional dos Estados Unidos com sua guitarra

O ano era 1969. O homem tinha acabado de pisar na lua. Bandas incríveis como Led Zeppelin e Yes lançaram seus discos de estreia. Toda a década de 60 parecia especial, no bom e no ruim: guerra do Vietnã, ditaduras, contracultura, culto à paz, sentimentos antibelicistas, revoluções sociais e políticas. Um caldeirão de fatos e emoções apropriado para um evento arrebatador. E ele aconteceu: Woodstock, o maior e mais celebrado festival de música da história, foi a coroação de 1969 e o marco de uma geração que influenciou mudanças sociais e de filosofias de vida.

O slogan seria "Três dias de paz e música", mas virou "três dias de paz e amor". Essa era a ideia que seria multiplicada mundo afora. Um planeta sem guerras, só de amor, sem fronteiras, com muita liberdade e sexo. A Aids não existia e a pílula anticoncepcional era uma realidade desde o início da década. Tudo era livre. O visual hippie fazia sucesso em jovens cabeludos e adeptos de roupas coloridas. Woodstock foi o apogeu de tudo isso: reuniu cerca de meio milhão de pessoas entre os dias 15 e 18 de agosto, numa fazenda da pequena cidade de Bethel, em Nova York, num evento que o mundo nunca mais esqueceu. Agora, para comemorar os 40 anos do festival, serão lançados livros, discos, shows, DVDs, filme, relançados álbuns e até uma coleção de seis CDs, "Woodstock 40", com 38 gravações inéditas, que chega às lojas no próximo mês.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Em agosto o diretor de cinema Ang Lee lança, nos Estados Unidos, a comédia "Taking Woodstock", (Conquistando Woodstock, em tradução livre, sem previsão de estreia no Brasil), baseada em um livro homônimo de Elliot Tiber, que chega às prateleiras nacionais em setembro. No bojo de todas as comemorações, a lembrança de momentos marcantes e emocionantes. Como a apresentação de Jimi Hendrix, na manhã da segunda feira 18 de agosto, para encerrar Woodstock tocando o hino americano e extraindo de sua guitarra sons que simulavam explosões de granadas e rajadas de metralhadora.

A reprodução dessa cena, assim como a de várias outras, está em livros como "The Road to Woodstock", recém-lançado nos EUA (O Caminho para Woodstock, ainda sem previsão de lançamento no Brasil), de Michael Lang, e "Woodstock – Quarenta Anos Depois, o Festival Dia a Dia, Show a Show, Contado por quem Esteve Lá", de Pete Fornatale, que a Agir lança no sábado 25. "E muitas dessas histórias se contradizem", afirma Fornatale, um radialista americano. "Woodstock é um elefante. Talvez até um elefante rosa, dependendo do que você tomava na época", diz, referindo-se ao alto consumo de drogas, outra marca daqueles dias.

NO CINEMA O filme de Ang Lee sobre o festival chega às telas dos EUA em agosto

O documentário "Woodstock", de 1970, vai ganhar nova edição, com imagens inéditas e a inclusão do histórico show de Janis Joplin. Ela cantou lindamente, mas irritou alguns presentes. "Fiquei um pouco desapontado. Sua voz estava maravilhosa como sempre, mas ela ficava se virando para a banda a todo o momento para dar instruções", lembra Lang em seu livro.

Há negociações para um show oficial de aniversário, que poderá não acontecer devido às divergências entre os quatro sócios antigos. Mas uma apresentação já está confirmada: do Heroes of Woodstock (com músicos que se apresentaram em 1969, como Melanie e Country Joe), no dia 15 de agosto, no local onde aconteceu o festival, organizada pelo Centro Artístico de Bethel Woods.

Os organizadores de Woodstock são quatro: Joel Rosenman, Michael Lang, Artie Kornfeld e John Roberts. Embora a ideia tenha sido genial, eles tiveram prejuízo de US$ 1,3 milhão. Woodstock foi planejado como um evento fechado. Os ingressos para os três dias custaram US$ 18. Mas cerca de meio milhão de pessoas assistiram aos shows e a maioria sem pagar. Simplesmente, a cer ca foi derrubada num rompante coletivo. Os organizadores não tiveram saída: "É um concerto gratuito de agora em diante", anunciou no palco o gerente de produção John Morris. Woodstock custou US$ 2,4 milhões, mas só arrecadou US$ 1,1 milhão com a venda de entradas.

NAS PRATELEIRAS Livros contarão histórias e bastidores dos três dias de paz e amor


A fazenda virou um território tomado por jovens embalados pelo rock, pelas drogas, pelo álcool e por projetos de harmonizar o mundo. Porém, além da imundície do local faltaram banheiros, comida e segurança -, também há duas mortes, uma por atropelamento e uma por overdose. Curiosamente, também nasceram três bebês ali. O congestionamento gigantesco em Nova York quase levou o governador, Nelson Rockefeller, a acabar com a festa. Diante do caos, os artistas passaram a ir de helicóptero. Mas nada tirou o tom extraordinário de um evento que reuniu Joan Baez, The Who, Janis Joplin, Joe Cocker, John Sebastian e outros grupos importantes.

A escolha da fazenda de 240 hectares onde os shows foram realizados é um dos capítulos mais confusos. As terras pertenciam a Max Yasgur, um grande produtor de laticínios dos EUA. John Roberts contou a Fornatale que o fazendeiro ligou oferecendo ajuda, na condição de que pagassem seu preço. "Ele acrescentou um zero ao nosso aluguel. Em vez de US$ 7,5 mil, tivemos que pagar US$ 75 mil", disse Roberts. Já Lang diz em seu livro que ele mesmo procurou Yasgur e fechou negócio. "Ele calculou quanto perderia com sua plantação de alfafa e quanto custaria plantar tudo de novo", lembra. Fez uma boa aposta. Embora tenha dado prejuízo no passado, Woodstock virou um centro cultural que cobra ingressos. E uma marca que é uma torneira de rendimentos que não fecha nunca.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias