UM MUNDO ÓRFÃO O caixão do ídolo foi puxado pelos irmãos (à esq.). Paris, 11 anos, Prince Michael I, 12 anos, e Prince Michael II, 7 anos, viram a cerimônia da primeira fila (ao lado). Na Times Square, em Nova York, fãs viram os shows pelo telão

Paris Jackson, 11 anos, caminhou até o microfone no ginásio Staples Center, em Los Angeles, onde ocorria o velório de Michael Jackson. Estava hesitante, mas com a ajuda da tia Janet começou a falar: "Desde que nasci, papai foi o melhor pai que se pode imaginar." Tomada pelo choro e soluçando, emendou: "Eu só queria dizer que eu amo ele demais", completou, irrompendo em lágrimas e logo amparada pela família. Com essas palavras, ditas em 24 segundos na terça-feira 7, a menina deu uma dimensão humana e íntima à morte pública do cantor. Sua sinceridade infantil mostrou que, antes de deixar milhões órfãos de sua música, o astro deixou três órfãos de pai.

A emoção das palavras de Paris foi o ponto alto da homenagem a Jackson, que contou com a presença de ídolos como Stevie Wonder e Brooke Shields. A curiosidade natural em torno da filha de um astro pop que cresceu anônima transformou o momento em hit na internet, com cinco milhões de acessos no YouTube, site de compartilhamento de vídeos, em apenas dois dias. O gesto, porém, foi motivo de desavença entre os irmãos do cantor, segundo o jornal americano Chicago Sun Times. Janet, La Toya e Marlon achavam importante deixá-la expressar seu amor pelo pai publicamente, enquanto Randy e Jermaine estavam incertos quanto à exposição.

O "showneral" de michael jackson em números

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Paris e os irmãos, Prince Michael I, 12 anos, e Prince Michael II, 7 anos, saíram do anonimato para a superexposição numa tacada só. Criados reclusos pelo pai, a ponto de nunca terem frequentado uma escola regular, tiveram as feições, os olhares e os gestos acompanhados por um bilhão de pessoas durante o velório público.

A partir de agora, sem poder contar com a maior referência para eles, o futuro dos três é incerto. Katherine Jackson, avó das crianças, tem a tutela provisória – em testamento o cantor a escolheu para cuidar de seus filhos no caso de sua morte. Na segunda-feira 13, um juiz da corte superior do condado de Los Angeles decidirá quem ficará com a custódia deles.

A exmulher do astro e mãe de Prince I e Paris, a enfermeira Debbie Rowe, manifestou intenção de brigar pela guarda das crianças para afastá-los da família Jackson. Ela mora em Palmdale, na Califórnia, a duas horas de Los Angeles. Se for adiante, poderá criar outro drama, pois implicaria afastá-los do caçula, cuja mãe é desconhecida. Debbie abriu mão dos filhos quando se separou de Jackson, há dez anos.

A imagem deles sentados na primeira fila do velório de Michael Jackson contrastava com o mistério cultivado ao longo dos anos. Prince Michael I passou a cerimônia inteira sério. Entre as franjas de um cabelo liso que se estendia até as bochechas, ele acompanhou, impassível, as apresentações de músicos como Mariah Carey e Usher. Prince Michael II preferiu se distrair com um boneco feito à imagem do pai. Foi Paris – ela ganhou o nome por ter sido concebida artificialmente na capital francesa – que se mostrou a mais emotiva dos três.

Com cabelo claro e liso, olhos azuis e um vestido preto que realçava a brancura de sua pele, ela reagia com vigor aos discursos e músicas apresentados em homenagem ao pai. Em momentos de tristeza ela se agarrava ao braço da avó Katherine em busca de conforto. Quando o reverendo Al Sharpton falou, olhando para os três irmãos, que "não havia nada de estranho com o papai de vocês", ela foi a primeira a se levantar para aplaudir. "Paris mostrou que por mais expert que sejamos em Michael Jackson, o astro, somos absolutamente ignorantes quanto ao Michael Jackson pai", diz Jorge Forbes, psicanalista e presidente do Instituto da Psicanálise Lacaniana. É com a ausência que as crianças terão de conviver a partir de agora.


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