Ponto de encontro da ala mais alternativa da juventude londrina, a Brick Lane Street "bomba" às quintas-feiras. Quem passa por ela numa noite agitada consegue ouvir, em alto e bom som, o arretado solo da sanfona sobreposto ao burburinho dos típicos pubs da capital inglesa. A música vem de uma concorrida apresentação da banda Daladeira, liderada pelo cantor Lucas Amorim, filho do também cantor Geraldo Azevedo. Sua especialidade: forró.

O cantor carioca vive de seu trabalho na cena musical europeia há sete anos, e não é o único. Em cidades como Barcelona, Paris, Amsterdã, Dublin e Lisboa outros grupos brasileiros se apresentam tocando o mesmo ritmo. Com um repertório de xote, baião e xaxado, a banda Trio Dona Zefa, de São Paulo, retornou em maio do velho continente com proposta para voltar e lá permanecer por seis meses. Seus integrantes recusaram o convite, mas pretendem retornar.

"Vi uma inglesa cantando nossa música, fizemos shows para cerca de mil pessoas e vendemos mais de 500 CDs", diz o vocalista, Danilo Ramalho. Na onda desse remelexo que começa a invadir a Europa, há espaço tanto para grupos recentes como para cantores consagrados. Este mês, o pernambucano Geraldo Azevedo aporta pela segunda vez na capital londrina para se apresentar em um teatro com capacidade para 1,7 mil pessoas.

No repertório, só forró. "O povo fora do Brasil assimila a riqueza rítmica e melódica da música nordestina. É uma grande festa", diz o cantor. Para ele, o ritmo só agora está sendo descoberto no Exterior devido ao preconceito que o cercou até a década de 1990. Lucas Amorim faz coro com o pai: "O resto do mundo não sabia da importância da música do Nordeste para a cultura brasileira. Estamos mudando isso."

Fruto direto dessa mudança é o documentário "Paraíba, meu Amor", realizado pelo diretor suíço Bernard Robert-Charrue, que espera a liberação dos direitos autorais de alguns músicos para exibi-lo no cinema.

Mas as sessões privadas – tanto a de estreia na Alemanha quanto as que já aconteceram na Paraíba e no festival de jazz de Montreux, na França – fizeram bastante sucesso. No filme, ele promove o encontro entre o craque da sanfona Dominguinhos e o músico francês Richard Galliano, tido como um dos maiores acordeonistas do mundo. "A cultura popular europeia atual é pobre.

O forró oferece letras genuínas de amor e da vida provenientes de um povo que até então o europeu não conhecia", diz Robert-Charrue. E quem entende do xaxado faz sucesso nas noites dedicadas ao ritmo. O publicitário carioca Rafael Monteiro, 27 anos, mora há um ano em Londres e conta que o gingado brasileiro ajuda a fazer amizades e a paquerar : "Todos se sentem bastante atraídos pelo balanço dos forrozeiros."