editorial.jpg

">editorial.jpg

">

editorial.jpg

Virou uma grande jogatina na antessala das eleições presidenciais. Não interessa mais dentro do Senado se este ou aquele desvio de conduta, deslize no uso e abuso dos privilégios da Casa foi de um partido ou de outro, de um senador ou de todos – e quais punições adotar. Esses senhores que ocupam a plenária não estão brigando por isso. A limpeza dos maus hábitos não é um objetivo em si. A questão, muito maior que a metástase das práticas fora do decoro, é quem ao fim e ao cabo ganha o poder para conduzir seu escolhido rumo a 2010. É a visão dos congressistas metidos no acusa-defende. Míope, pode ser, mas adequada aos fins que perseguem. Pouco está valendo a opinião pública, como lembrou outro dia um nobre parlamentar. A cadeira para influir na escolha do sucessor de Lula é o troféu da briga. No lugar de um peemedebista viria um tucano – ponto para a oposição! – ou, por caminhos mais tortos, um petista. Uma ciranda de acordos corrompidos, repleta de traições e recuos para que acusador não vire acusado e viceversa.

Os participantes da roda sabem que quem denuncia hoje será denunciado amanhã. Afinal, o PSDB conta com nomes na lista de beneficiários do esquemão. O DEM também. O PT idem. O PMDB nem se fala. Sobrou alguém? O presidente Sarney, apegado ao cargo como quem joga sua última cartada política, fecha os olhos aos próprios pecados, convoca um acordo de cavalheiros e faz ameaças de renúncia para não sair pela porta dos fundos. Lula mira oposicionistas e atira a balela de que estariam querendo levar o Senado no tapetão. O espetáculo é repleto de momentos circenses e o enredo muda ao sabor dos atores. Um Mercadante que poucos momentos antes pedia a licença de 30 dias para Sarney sobe logo depois à tribuna para defendê-lo. E não guarda reservas sobre suas motivações: não quer, e não pode, queimar um importante aliado nessa hora, pratique ele o erro que for. No último ato, todos se acertam, voltam à rotina de uma ética discutível e sobra o papel de claque para os comuns brasileiros, pobres espectadores.

Carlos José Marques, diretor editorial