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NO TEMPO CERTO
O relógio biológico, que informa seu cérebro de que é hora de comer
ou dormir, também rege o ritmo de plantas como a cana-de-açúcar. 
Esse é o objeto de estudo do biólogo da USP Carlos Takeshi Hotta,
31 anos. Ele já descobriu que 20% dos genes da espécie são controlados
pelo mecanismo, dado que pode ser decisivo para a produção de etanol. Em 2003, graças a uma
bolsa do Ministério da Educação, Hotta foi fazer seu doutorado na Universidade de Cambridge
(Inglaterra). “A vivência no Exterior foi fundamental para eu poder chegar aonde estou”, diz.
  

Na última década, cada vez mais pesquisadores brasileiros ganharam destaque na comunidade científica internacional. Em todas as áreas do conhecimento, homens e mulheres nascidos aqui – e, mais importante, que atuam no País – estão contribuindo para a cura de doenças, a criação de novos combustíveis, a busca de fontes alternativas de energia e a exploração de petróleo em áreas nunca antes exploradas. O crescimento da economia tem grande influência nessa revolução. Porém, apesar do otimismo, é preciso conter a euforia e investir no básico: a educação.

Embora o atraso ainda seja enorme, os números dão uma boa ideia da evolução da nossa produção científica. Entre 1997 e 2007, o número de artigos brasileiros em revistas especializadas mais do que dobrou. Somos o 13º país em publicações, ultrapassando nações ricas como Holanda e Suíça. As universidades daqui formaram em 2010 o dobro de doutores de 2001. Milhares de empregos foram gerados com a criação de 134 novos campi federais.

Um dos combustíveis para o avanço da ciência brasileira é o orçamento do Ministério da Ciência e Tecnologia, que saltou para R$ 7,6 bilhões em 2010 – em 2003, foi de R$ 2,6 bilhões. A expectativa para 2020 é de que possamos dobrar ou triplicar o número de estudantes e artigos científicos e nos colocarmos no top ten mundial. A maior parte dessa produção, no entanto, ainda está restrita ao Sudeste do País. Só a Universidade de São Paulo responde por quase um quarto de todas as publicações de artigos em revistas científicas. Os paulistas, ainda, dedicam uma fração fixa do orçamento estadual (0,5%) para a Fapesp (Fundo de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Para tentar corrigir tal disparidade, o governo federal tem construído mais universidades e destinado 30% dos fundos de pesquisa para Estados do Nordeste e Centro-Oeste.

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DE VOLTA AO LAR
Ao estudar o cérebro de ratos, o neurocientista Fábio Papes,
35 anos, ajuda a desvendar problemas humanos como síndrome do
pânico, estresse pós-traumático e esquizofrenia. Filho de uma família
de classe média de Jundiaí (SP), graduou-se em biologia e fez
o doutorado na Unicamp. Depois, cursou seu primeiro pós-doutorado
na Universidade de Harvard (EUA) e voltou ao Brasil em 2006. “Trabalho
em um laboratório tão bem equipado quanto os americanos”, diz o professor da Unicamp.

Foco no Norte e no Nordeste

Os resultados já começam a aparecer. O Instituto Internacional de Neurociências de Natal, fundado em 2003 pelos neurobiólogos Miguel Nicolelis e Sidarta Ribeiro, é um oásis de conhecimento no Rio Grande do Norte. Nicolelis é o cientista brasileiro mais famoso no Exterior. Suas pesquisas, realizadas na Universidade Duke (EUA), garantiram prêmios internacionais e criam expectativas de que ele possa ser o primeiro cidadão do País a ganhar o Nobel. Seus estudos já comprovaram que é possível mover pernas mecânicas por meio de sensores no cérebro – o que pode fazer paraplégicos voltar a andar.

Mais acima no mapa, porém, o maior laboratório do mundo segue subaproveitado. A Amazônia, que corresponde a 49% do território nacional e com potencial para inúmeras descobertas em novas espécies animais e vegetais, clima e medicamentos, é o lar de meros três mil doutores. Conhecer melhor a maior floresta tropical do mundo é primordial para preservá-la. A melhoria das técnicas de agricultura e pecuária – atividades que mais degradam a biodiversidade junto com a extração ilegal de madeira – depende de pesquisas. Ainda assim, a maior parte dos estudos sobre a região não tem um autor brasileiro.

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OURO NEGRO
No ensino médio, a carioca Anna Porto, 24 anos, sabia que seria
engenheira, mas tinha dúvidas em relação à área. Coincidentemente,
naquele ano de 2003 foram abertas as inscrições para o
primeiro curso de engenharia de petróleo da UFRJ. Hoje, faz mestrado
na mesma universidade. Anna pretende criar uma tecnologia
capaz de extrair o óleo em alto- mar sem o uso de plataformas.
“O pré-sal é um mundo novo e um desafio estimulante”, resume.
 

Outra de nossas deficiências é o baixo número de patentes. “O ensino se mantém distante do setor produtivo”, afirma José Goldemberg, ex-ministro e professor da USP. Ele cita dados de um recente levantamento do IBGE. Num universo de 106 mil indústrias, o estudo identificou apenas cinco mil que desenvolvem pesquisas a fim de criar novas tecnologias. Mas o quadro deve mudar. “O pré-sal será para o Brasil o que foi o programa espacial para os EUA”, afirma Aquilino Senra, vice-diretor da Coppe, pós-graduação em engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele cita novas tecnologias em comunicação, materiais, e geração de energia, entre outras, que serão criadas graças à demanda que a exploração em águas profundas vai gerar. “Mas é preciso olhar além do petróleo”, alerta Segen Estefen, diretor de tecnologia e inovação da Coppe. A exploração da camada pré-sal deve durar cerca de 25 anos. Por isso, deve-se encarar esse período não como um fim, e sim, uma oportunidade.

A demanda está na mesa. Com ela, a pesquisa deve aumentar, embora ainda seja preciso melhorar consideravelmente a formação dos profissionais. O que falta, então? “O País precisa de políticas públicas que estimulem a inovação”, diz Goldemberg. “Quando houve a lei dos medicamentos genéricos, em 1999, os laboratórios nacionais tiveram o campo ampliado”, lembra. “É de mais ações assim que precisamos.”

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ILHA DO FUNDÃO: NOSSO VALE DO SILÍCIO?
Além de abrigar o campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Ilha do Fundão é considerada o futuro Vale do Silício brasileiro. A comparação com a região da Califórnia, célebre por concentrar gigantes da tecnologia como Apple e HP, justifi ca-se. Afi nal, lá está um dos melhores centros de pós-graduação em engenharia do mundo, a Coppe, da UFRJ. Em outubro, a Petrobras ampliou seu centro de pesquisas na região a um custo estimado de US$ 700 milhões. Foram instalados laboratórios de biotecnologia, meio ambiente, gás e energia.