Nos bailes do Morro da Babilônia, favela que fica no Leme, zona sul do Rio de Janeiro, a socialite Heloísa Faissol, 38 anos, até passa despercebida. Veste-se e dança como as outras garotas que enchem as pistas ao som do batidão. A funkeira é autora de músicas de apelo erótico como “Dou pra Cachorro” – seus gemidos canino-sensuais a tornaram famosa no YouTube e em sites de MP3. Mas, quando a noite acaba, aparece a diferença: Heloísa volta para um apartamento de R$ 2 milhões, na avenida Rui Barbosa, no Flamengo, com vista para o Pão de Açúcar. A socialite, entretanto, vive um paradoxo: nasceu em berço de ouro, mas hoje conta dinheiro para sobreviver. O apartamento no qual mora é emprestado pela família e está à venda. Ela é filha do dentista Olympio Faissol, que cuida do sorriso de famosos, como o ator Reynaldo Gianecchini, e ricos, como o senador Fernando Collor, que foi seu cliente quando era presidente da República. Frequentar favela é fato novo na rotina dessa carioca que passou a juventude entre uma mansão no Alto da Boa Vista e uma bela casa de veraneio em Angra dos Reis. É opção e paixão profissional da funkeira conhecida como Heloísa Quebra- Mansão, uma alusão debochada a Tati Quebra- Barraco, sua colega de batidão.

A artista estudou em um dos mais caros colégios do Rio, a Escola Suíça-Brasileira, fala três idiomas, é formada em administração, altacostura e artes plásticas. O pai não entende muito bem sua escolha: “Acho que o funk é meio apelação da parte dela.” Mas tenta aceitar que ela seja diferente das cinco irmãs que preferem passear em Paris a subir os morros cariocas. “Filha é filha, né? A gente pode reprovar, mas torce para ficar bem”, diz ele. Heloísa também não o entende: “Meu pai queria que eu aprendesse a fazer próteses. Como um artista pode fazer próteses?” Ela não renega suas origens de elite, mas afirma que não se confunde com as irmãs. Seu negócio é o funk.

Agora, ela pretende se tornar popular trocando a temática erótica pela política. Acaba de lançar “Dá um Mamão”, um protesto sobre a falta de moradias decentes para o povo, e “Funk da Carroça”, defendendo as pessoas que compram produtos piratas porque não ganham salário decente. “Não posso tolerar que derrubem barracos de moradores sem lhes dar alternativa de vida”, afirma. Heloísa não é a única da família Faissol a chacoalhar o high society carioca. Há três anos, sua irmã Claudia revelou que a filha, hoje com cinco anos, era fruto de uma relação extraconjugal com o cantor João Gilberto. O fato chocou todos do clã, menos Heloísa, que acha que cada um deve cuidar da própria vida. A dela, por exemplo, está cada vez mais pobre. “Cada música que produzo e jogo na internet me custa cerca de R$ 1,5 mil”, diz a funkeira, atualmente em busca de um investidor.


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