Um dos nomes mais representativos no debate econômico do País, Marcos Lisboa foi o entrevistado da Live da IstoÉ nesta terça-feira (2). O presidente do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa) revelou sua visão sobre a economia brasileira e ressaltou a importância das políticas públicas como vetor de mudanças sólidas para o País.

Em relação ao atual cenário econômico do Brasil, se comparado com outros momentos de dificuldade, Marcos ressaltou que esta deve ser a maior crise da história do País.

“A economia já vinha frágil. Nos melhores momentos da nossa geração, o Brasil conseguiu apenas acompanhar os desenvolvimentos dos países ricos e cresceu muito menos que os demais concorrentes emergentes. Temos um problema estrutural de longa data”.

Lisboa ressaltou também como as decisões econômicas erradas tomadas no final da última década, que segundo ele continuaram nos anos seguintes, trouxe o Brasil até o atual momento.

“O crescimento do gasto público já vem de muito tempo, o que vai asfixiando o setor privado do País. No meio disso, vem essa paralisia inevitável com a pandemia. Então é uma crise grave e vai requerer muitos esforços e mudança de rota para nós sairmos o menos machucado possível”.

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Ministério da Economia

Sobre agenda econômica adotada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e o possível crescimento de investimentos de fora do País, o economista acredita que uma análise técnica mostrou o contrário do esperado pelo governo.

“Os dados não mostram isso. Teve uma saída imensa de investimento estrangeiro depois da Previdência. Os indicadores do fim de 2019 e começo deste ano não eram bons”.

O ex-vice presidente do Itaú Unibanco também criticou o sistema tributário brasileiro e o classificou como “disfuncional”.

“O nosso sistema tributário é sem comparação com os demais países minimamente arrumados. Talvez a Índia tivesse um sistema tão disfuncional quanto o nosso, mas já fez Reformas há muitos anos. […]Fazemos todos o esforço para conspirar para o país não crescer. Neste momento, o país está mais pobre e todos nós estamos mais pobres”.

Reformas

Sobre a possível retomada dos debates sobre as Reformas Administrativa e Tributária no pós-pandemia, Marcos disse que falta um pouco de cuidado no desenvolvimentos de políticas públicas e considerou a Reforma da Previdência incompleta.

“Tá faltando um pouco mais de cuidado com o desenvolvimento de proposta com política pública. Tem que parar de discutir políticas públicas com três páginas, cadê a análise técnica?”, questionou.

“Ao meu ver saiu incompleta [Previdência], pois deixou de fora estados e municípios. A maior decepção foi não ter conseguido enfrentar a questão dos estados e municípios”, finalizou.

O ex-secretário econômico do primeiro governo Lula também fez uma alerta para o cuidado necessário com a proposta da Reforma Tributária.

“Dependendo de como você faz a mudança tributária, você pode diminuir o crescimento econômico. É surpreendente esse debate carente de fundamentos e análises cuidadosas”, criticou.

Privatizações

Questionado sobre o tema das privatizações, um dos pontos da agenda do atual governo, Marcos enxerga a medida como positiva e aproveitou para criticar as visões polarizadas sobre o assunto.

“É bom privatizar. Até porque a mair parte das empresas não tem nem mais função, não sei nem se algumas tem mercado para privatizar”.


“A gente não trata do que realmente vai fazer diferença para o País. Isso que me preocupa. Perdemos tempo com debates, com tanta coisa para fazer e consertar e nós ficamos nessa polarização com coisas que não vão mudar o mundo”, completou.


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