O delegado Protógenes Queiroz, eleito deputado pelo PCdoB, deve ter passado os últimos dias fazendo contas. Afinal, a decisão judicial que absolveu e transformou o ex-prefeito Paulo Salim Maluf em “ficha limpa” colocava em risco a diplomação do justiceiro. Maluf, com seus 497,2 mil votos, irá puxar alguns deputados pelo quociente eleitoral. Protógenes, com apenas 94,9 mil, só chega ao Congresso Nacional porque foi puxado pelo palhaço Tiririca.

Em 2005, os dois se encontraram pela primeira vez. Protógenes foi o responsável pela prisão do ex-prefeito e de seu filho Flávio Maluf, acusados de intimidar testemunhas numa investigação do delegado. Uma dessas testemunhas era um doleiro paulista, conhecido como Birigui, que pouco tempo depois foi flagrado em grampos telefônicos dizendo ter feito um acordo espúrio com a Polícia Federal. Um acerto que lhe permitiria até manter sua lojinha de câmbio aberta num dos mais luxuosos shoppings de São Paulo. Ou seja: houve uma delação premiada em que o doleiro foi perdoado e o alvo abatido.

Um ano depois, mesmo tendo passado um bom tempo atrás das grades, Maluf conseguiu se eleger – em 2006, ele foi o deputado federal mais votado por São Paulo. E levou ao Congresso um dos melhores projetos da última legislatura: o de número 265/2007, que visava coibir abusos de autoridade cometidos pelo Ministério Público e pela Polícia Federal. Basicamente, pretendia penalizar agentes públicos que conduzissem ações temerárias contra terceiros, movidos por má-fé e interesses inconfessáveis, de natureza política e até pecuniária. Um projeto que só não foi aprovado pelo vício de origem. Batizado de “Lei Maluf”, caiu no esquecimento.

Reconduzido ao Congresso, o ex-prefeito poderá tentar desenterrar uma ideia que não é má. Ao contrário. Protógenes só se elegeu porque foi capaz de midiatizar suas prisões. Mas quando se pergunta sobre a consistência das investigações, a história é outra. Nada fica de pé. Pior: além de demonstrar incapacidade técnica, o delegado também avança o sinal com fre­quência. Tanto que foi condenado recentemente por fraudar provas na Operação Satiagraha.

Agora, os dois estarão lado a lado, mas em posições inversas. A caça talvez se transforme em caçador. Na atividade política há décadas, Maluf já teve todos seus pecados desnudados. Protógenes, pela primeira vez, será submetido à luz do sol. E é possível que, no momento da queda, a sociedade redescubra uma velha máxima: perdoa-se o pecador; o pregador, jamais!