Comportamento

O design do sabor
Movimento capitaneado por arquitetos, engenheiros e chefs transforma comida em objeto de decoração

Renata Cabral
 

 

i76734.jpgArte para ver e comer. Essa é a proposta do food design, conceito criado por arquitetos, designers, chefs e até engenheiros que se reuniram para trazer novas propostas e experiências ao hábito de comer. Eles transformam comida em objetos de decoração e criam utensílios, tais como uma colher de café com um buraco no meio – que, garantem, faz diferença na hora de mexer o líquido na xícara. O movimento, que conta com um evento anual realizado há cinco anos, em Turim, na Itália, deu origem a um nicho de mercado, com uma nova profissão que chega aos poucos ao Brasil: a food designer. O espanhol Ferran Adrià, o chef mais festejado do momento, é um dos expoentes da novidade.

Uma das representantes brasileiras do segmento é a paulistana Simone Mattar. Com formação nas áreas de design e culinária, a profissional reuniu, por exemplo, mais de dois mil potes de gelatina colorida na luminária Gelúminas. Cada pote tem uma letra da palavra "Comaluz", repetida centenas de vezes na obra. Conterrâneo de Adrià e dono do restaurante El Celler de Can Roca, que tem duas estrelas no guia Michelin e fica em Girona, na Espanha, Joan Roca é outro adepto do movimento. Para ele, o conceito de food design faz parte de seu processo criativo, mas sempre como um complemento do objetivo final, que é provocar uma forte emoção no público. "É uma cozinha para celebrar. Ela faz sentido neste âmbito", diz o chef. Para a professora de gastronomia da Universidade Veiga de Almeida, no Rio de Janeiro, Patrícia Gouveia, um dos fatores que incentivaram o crescimento da tendência foi o sucesso da cozinha asiática – repleta de pequenas porções bem trabalhadas visualmente. "Aí é que começaram a aparecer peças pequenas e enfeitadas."

i76736.jpgNa Europa, gastrônomos e designers já atuam em parceria, principalmente no mercado de luxo. Assim funciona a dobradinha entre o brasileiro Paulo Lima e o francês Philippe Starck: o primeiro seleciona novos sabores e produtores para a empresa LA Organic, na qual trabalha, em Madri, e o segundo assina as embalagens. "Cores e formatos são importantes para levarem até o cérebro uma percepção do sabor, da experiência sensorial, antes que o palato ou o olfato entrem em ação", diz Lima.