Existem enganos que por diversas razões permanecem na mente como verdades absolutas. O problema é que, quando está associado à saúde, o equívoco muitas vezes representa uma ameaça. Um exemplo é a crença de que tudo o que é natural é seguro. "O consumo sem orientação de produtos à base de plantas pode levar a interações desastrosas", afirma Paulo de Tarso Lima, do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Uma delas é o uso da arnica por pacientes que tomam medicação contra a hipertensão – a erva pode reduzir o efeito dos remédios. Esse e outros seis erros comuns foram reunidos no livro Sete mitos que podem matar, da médica americana Nancy Snyderman. "É preciso divulgar as constatações da medicina para derrubar idéias erradas", disse ela à ISTOÉ. A obra foi lançada há dois meses nos EUA e está na lista das mais vendidos do jornal The New York Times.

O primeiro mito apontado é o de que os check-ups são desnecessários. A idéia tomou fôlego na década de 80 e embutia a defesa de que os exames não consideravam o perfil dos pacientes. Por isso, não buscavam o que era preciso. Porém, um estudo divulgado no Annals of Internal Medicine, publicação do Colégio Americano de Médicos, constatou que testes anuais trazem benefícios importantes. "Eles têm impacto sobre a mortalidade", disse à ISTOÉ Ebony Boulware, autor da pesquisa. Além disso, hoje o check-up investiga o que é necessário para o paciente. "Levantamos a história familiar e os hábitos para determinar todos os exames a serem feitos", explica Danielli Haddad, do Hospital Sírio- Libanês, de São Paulo.

A médica inclui na lista o pensamento de que doenças psiquiátricas como depressão são apenas sentimentos que podem ser superados sem a ajuda médica. Isso é tão forte que, segundo a Organização Mundial da Saúde, menos de 25% dos portadores de depressão recebem tratamento efetivo. O engano acontece porque o doente não busca auxílio ou os seus sintomas não são reconhecidos pelos médicos. A psiquiatra carioca Rita Jardim vê até hoje pessoas que resistem em aceitar o diagnóstico. "E às vezes é difícil convencê-las", lamenta. Há outro problema, como indica a psiquiatra Laura Guerra, do Hospital das Clínicas de São Paulo. "Existe a noção de que se a pessoa se esforçar sozinha consegue ficar boa", afirma. O resultado da pouca informação é dramático: no mundo, um milhão de doentes sem assistência comete suicídio por ano.

Tão grave quanto isso é acreditar que infarto e acidente vascular cerebral (AVC) atingem somente pessoas mais velhas. Portanto, os jovens não precisam se prevenir. Mas o fato é que, no Brasil, 11% dos infartos ocorrem em indivíduos com menos de 40 anos, segundo pesquisa do médico Marcelo Sampaio, do Instituto Dante Pazzanese (SP). No Hospital do Coração, também em SP, só o médico Ricardo Pavanello recebeu recentemente três jovens. "O stress é um fator de risco de peso para essa população", explica. Em relação ao AVC, o quadro também é sério: 579 pessoas com idade entre 20 e 29 anos morreram em 2005.

Os dois últimos equívocos relacionados são os de que os médicos dão a mesma atenção a todos e que estamos perdendo a guerra contra o câncer. Em relação ao primeiro item, estudos revelam que muitas vezes o tratamento dado a um homem e a uma mulher é diferente. "É um erro. Um médico tem de ser guiado pelo princípio da equidade no atendimento", diz Antônio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica. Quanto ao câncer, os índices de cura contra tumores detectados rapidamente são positivos: 86% nos casos de leucemia e cerca de 80% quando se trata de tumor de mama, por exemplo. "Terapias modernas e a desmistificação da doença estão ajudando", diz Sérgio Petrilli, do Grupo de Apoio à Criança e ao Adolescente com Câncer.

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