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TRIO Em MG, Lula diverte-se com Aécio e Alencar, mas deixa claro que guerra contra spread não é brincadeira

 

Ao demitir o presidente do Banco do Brasil, Antonio Lima Neto, na terça-feira 7, o presidente Luís Inácio Lula da Silva deu um recado claro a seus subordinados: acima de todas as prioridades de seu governo, está a necessidade de aquecer a economia, aconteça o que acontecer no cenário internacional. Na cabeça do presidente, está a certeza de que as chances de eleger seu sucessor estão umbilicalmente ligadas aos rumos da economia brasileira.

As últimas pesquisas de opinião sobre a aprovação de sua gestão foram um sinal de alerta. A popularidade de Lula continua alta, mas chegou a cair 10% como reflexo da brusca freada na atividade econômica. Isso é tudo o que o presidente não quer, pois significa uma nuvem cinzenta sobre os planos de eleger a ministra Dilma Rousseff em 2010. Todo e qualquer obstáculo ao projeto político maior será removido. Esse foi o caso de Lima Neto, que resistia à determinação oficial de reduzir o spread bancário a qualquer custo.

"A redução do spread bancário neste momento é uma obsessão minha. Nós precisamos fazer o spread voltar à normalidade no País. O Guido Mantega sabe disso, o Banco do Brasil sabe disso, a Caixa Econômica e o Banco Central sabem disso", afirmou o presidente, ao confirmar a troca de comando no BB. De olho em sua sucessão, Lula deixou claro que passará a exigir uma afinação máxima de todos os instrumentos. Foi assim que o Ministério da Fazenda interpretou esta mudança de tom do presidente. "Para que não paire dúvida, o presidente Lula mostrou que quem manda no governo é ele e ponto final", concluiu um integrante da equipe do ministro Guido Mantega. "A questão primeira, agora, é manter a economia pedalando.

Fazer o sucessor será uma consequência natural", completou. Nessa estratégia, Lula vai usar todos os meios ao seu dispor. Para aquecer a construção civil, que tem efeito multiplicador sobre o emprego e a renda, o governo lançou um ambicioso plano habitacional, cuja meta é erguer um milhão de imóveis populares nos próximos dois anos. O setor automotivo, que responde por quase 25% do PIB, também foi brindado com a prorrogação por três meses da redução do IPI.

E está para sair a qualquer momento a desoneração tributária de geladeiras e outros bens da linha branca. Estuda-se também a redução de encargos trabalhistas para empresas que evitarem demissões. E deve ser anunciado, esta semana, um pacote de ajuda aos prefeitos que sofreram perdas nos repasses do Fundo de Participação dos Municípios.

A medida foi confirmada na segundafeira 6, durante inauguração da usina de biodiesel de Montes Claros (MG). Ao lado do governador mineiro, Aécio Neves, e do vice-presidente, José Alencar, Lula foi taxativo: "Todos nós vamos ter que apertar o cinto, mas nenhum de nós vai morrer na seca. Vamos tentar criar as condições para isso." Foi quase uma senha. Nesse novo tom, faltava convencer os bancos oficiais a seguir a nova partitura, reduzindo seus spreads. Agora não falta mais. O mercado financeiro reagiu negativamente ao afastamento de Lima Neto. As ações do BB caíram 8,15% na Bovespa na quarta-feira 8 e continuaram a cair na quinta-feira. Alguns analistas, no entanto, alertamque este é um movimento normal sob o impacto da mudança na direção do banco.

A tendência é que logo o mercado assimile a linha da nova gestão e o valor das ações retorne ao patamar tradicional. A despeito das análises do mercado, o fato é que o governo cansou de ouvir reclamações de empresários sobre a insistência do BB em operar com taxas até mesmo mais elevadas do que a dos bancos privados. Daqui para a frente, não haverá motivo para críticas. Na entrevista em que comunicou a troca de comando, o ministro Mantega anunciou a redução do spread e o aumento da carteira de crédito do BB, hoje de R$ 240 bilhões: "O Banco do Brasil vai ter uma política mais agressiva.

Vamos ampliar a concorrência, incipiente e insatisfatória, que é um dos motivos para os spreads elevados." Segundo Mantega, "o momento exige ousadia, mas tudo será feito com responsabilidade e segurança". Logo, não há o que temer. A decisão de usar o Banco do Brasil para liderar a baixa dos spreads, nesta hora de crise, é correta. E os acionistas que não concordarem com o ato do presidente Lula têm sempre a opção de vender as ações. Mas se o Banco do Brasil, como prevê Mantega, lucrar com o aumento do volume de suas operações, poderão se arrepender no futuro.

"Não aguentamos mais presidentes de bancos públicos que acham que são presidentes de bancos privados", desabafou a ministra Dilma Rousseff , ao comentar com sindicalistas a queda de Lima Neto. O ex-presidente do BB pagou por não se adaptar aos novos tempos. Hoje, não basta ser eficiente, há que se enquadrar também ao projeto político. A administração de Lima Neto, justiça seja feita, sempre foi alvo de elogios. O BB, nos últimos dois anos, não parou de crescer. Incorporou o Banco de Santa Catarina, a Nossa Caixa e metade do Banco Votorantim.

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OUSADIA Bendine, Mantega e Lima Neto: promessa de BB mais agressivo

E prepara-se para adquirir o Banco de Brasília e o Banco do Espírito Santo, em busca de recuperar o primeiro lugar no ranking que perdeu após a fusão do Itaú com o Unibanco. Em 2008, registrou um lucro líquido de R$ 8,8 bilhões, o maior de sua história. Num ambiente de normalidade, não haveria motivo para remover Lima Neto. Acontece que, diante dos efeitos negativos da crise internacional, o governo fixou como prioridade zero a questão dos juros e do spread bancário.

Sob pressão do setor produtivo, o BC reduziu a taxa básica de juros. Mas o custo financeiro continua alto, já que os bancos não abrem mão de sua margem de lucro. Era de esperar que o BB e a Caixa Econômica Federal (CEF) saíssem na frente e dessem o exemplo, mas isso não ocorreu.

No cálculo frio dos bancos, a grande diferença entre o custo de captação e as taxas cobradas aos clientes tem fundamento técnico. Se o spread bancário ultrapassa 40% ao ano, é porque a carga de impostos é muito alta e o risco de inadimplência também. Segundo dados do próprio BC, a inadimplência contribui com 37,4% na formação do spread e os tributos por 18,3%. O lucro dos bancos abocanharia uma fatia de 26,9% do spread total. Na opinião do diretor do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV, Luiz Guilherme Schymura, apesar da carga tributária, "há ampla margem para reduzir os juros". E caberia à CEF e ao BB dar o pontapé inicial.

A equipe econômica é da mesmíssima opinião. Desde o fim do ano, o presidente do BC, Henrique Meirelles, vinha atirando na inércia de Lima Neto. Também acusava o BB de ter aumentado os juros no meio da tempestade, dando a senha para os bancos privados. Lima Neto argumentava que o BB não podia se expor a riscos exagerados e devia zelar pela boa governança e pela rentabilidade dos acionistas. Aos poucos perdeu prestígio. Depois de baixar a Selic em janeiro, Meirelles se fez ouvir pelo presidente Lula e também conquistou o apoio de Guido Mantega e de Dilma Roussef. Lima Neto isolou-se de vez. "Não havia mais como me manter no cargo, as pressões para minha saída aumentaram muito", disse ele.

No fim da tarde da terça-feira 7, Mantega chamou Lima Neto ao seu gabinete e oficializou a demissão. Era dia do aniversário do ministro e da primeira-dama Marisa Silva. Após a reunião, Mantega participou de uma homenagem com dona Marisa, no Centro Cultural Banco do Brasil. Mais tarde dirigiu-se ao Palácio da Alvorada, também para comemorar os dois aniversários. Nas idas e vindas, foi discutido o nome do sucessor de Lima Neto.

Nos bastidores, falava-se do economista Bernard Appy, que preside o Conselho de Administração do BB. Foram citados também os vice-presidentes do BB Adézio de Almeida Lima, Milton Luciano e Ricardo Flores. Mas, no fim da noite, foi batido o martelo a favor de Aldemir Bendine, vicepresidente do BB para a área de cartões e novos negócios do varejo. Funcionário de carreira, ele entrou no BB em 1978, como estagiário. Em 2006, tornou-se assessor da presidência e em julho de 2007 assumiu a vice-presidência de varejo e distribuição.

Dois meses depois, ascendeu à função atual. "O Bendine assume com um contrato de gestão em que vai se comprometer a agilizar a liberação de crédito, concorrer com os grandes bancos e incorporar novos clientes", disse Mantega. Bendine convocou os funcionários do BB. "Vou contar com a grande capacidade do quadro muito qualificado de servidores do banco para enfrentar este desafio", disse.

 

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