O uso de "métodos violentos e particularmente a tortura continua muito disseminado" nas forças de segurança na América Latina e na metade dos países do mundo, denunciou esta quinta-feira um informe da ONG francesa Ação de Cristãos para a Abolição da Tortura (ACAT).

"A tortura é uma prática endêmica e regular" que "afeta mais da metade dos países do mundo, da Eritreia à Guatemala, do Sri Lanka à Rússia, passando por França e Espanha", diz este primeiro documento intitulado "Um Mundo Torturador". Apresentado como uma "geografia da tortura", o informe revisa a situação em 22 países de cinco grandes regiões do mundo. Na América Latina se refere à situação dos últimos anos em Brasil, Colômbia, Guatemala, México e Peru, e cita Argentina, El Salvador, Paraguai, Bolívia e Equador.

"Herança de décadas de ditaduras militares, é frequente que pessoas procedentes na maioria de meios desfavorecidos ou marginais sejam maltratadas ou torturadas pela polícia ou as forças de segurança quando são detidas", destacou o documento. Da técnica conhecida como crucificação de Cristo na Eritreia, à prática usbeque de lavagem intestinal com pimenta, a tortura é uma rotina adotada por autoridades públicas em todo o mundo, destacou o informe.

"Podemos calcular de forma razoável que mais da metade dos estados-membros das Nações Unidas recorrem à tortura", destacou o relatório de 370 páginas, elaborado pela ONG, sediada em Paris. Estados totalitários, ditaduras e muitos regimes islâmicos são grandes agressores, bem como países que enfrentam violência política e instabilidade, destacou o estudo.

A tortura se tornou um "sistema genuíno de investigação e de repressão a serviço do aparato de segurança" em países africanos chefiados por governos ditatoriais ou por governos "com tendências ditatoriais". Entre estes países, o informe citou Mauritânia, Sudão, Zimbábue, Etiópia, Guiné Equatorial e República Democrática do Congo.

A ACAT foi fundada em 1974 com vistas a aumentar a conscientização sobre o uso disseminado da tortura ao redor do mundo e defender sua abolição.