Quando um jardim é plantado no canteiro de um espaço público paulistano, dificilmente resiste à aridez e à poluição. Mas quando um artista instala um jardim virtual na área de maior circulação da estação Paraíso do metrô, as espécies se reproduzem abundante e indiscriminadamente. Quanto maior o fluxo de gente, maior a vitalidade das plantas. Ultranature, criado pelo mexicano Miguel Chevalier, é um caso único de biodiversidade: ativadas por sensores que captam o movimento dos transeuntes, as flores balançam, espalhando pólens pela videoinstalação e se multiplicando: não há duas flores iguais nesse jardim. A obra de Chevalier é uma das principais atrações de Emoção Art.ficial 4.0 – Emergência!, a bienal de arte e tecnologia que apresenta o que acontece quando artistas colaboram com cientistas, matemáticos e engenheiros.

Além de artistas, participam físicos, programadores de computação, DJs, VJs, produtores musicais, arquitetos, web designers. Eles transformam o espaço expositivo num laboratório de pesquisas, criando obras em robótica, games, instalação sonora, software art, web art, arte generativa, entre outras vertentes da arte digital. "Esta é a segunda de uma trilogia de mostras que pretendem discutir o que é a cibernética", afirma Guilherme Kujawski, coordenador do Itaulab, o núcleo de arte e tecnologia do instituto. Ele explica que a cibernética surgiu nos anos 1950, em busca de uma linguagem comum entre homens e máquinas. A primeira mostra, em 2006, apresentou a interface cibernética. Agora está em pauta o conceito científico da emergência.

Todos os trabalhos, dos livros-objetos da brasileira Raquel Kogan ao game Spore, de Will Wright, criador dos já clássicos SimCity e The Sims, seriam desencadeadores de "emergências". "Esse é um termo científico que se refere a resultados complexos e imprevisíveis que emergem de regras simples. Um exemplo de emergência é a interação de neurônios que criam a consciência", explica Kujawski.

Na história da arte, a action painting de Jackson Pollock (1912-1956) seria outro exemplo. A sacada é do português Leonel Moura, que trabalha com inteligência artificial. Moura inventou um robô que simula a pintura gestual do expressionismo abstrato americano, a partir de informacões em seu sistema e de estímulos do público. Longe de ter o charme dos robôs fictícios do cinema, "RAP3" é uma engenhoca que só ganha interesse quando entra em ação. Mas, por mais sedutor que possa ser um robô fazendo action painting, ele é um objeto contraditório. É fruto de pesquisa de ponta, mas se comporta como um artista à moda antiga, assinando suas "obras de arte" no canto direito inferior, prática abolida justamente pela geração de Pollock – a mesma que inventou a cibernética -, que começa a transformar definitivamente a arte, abrindo-a para outros territórios. Como, por exemplo, esse que hoje conhecemos por "arte e tecnologia".