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Foi só depois que recebeu os avais do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do governador de São Paulo, José Serra, que Nelson Jobim aceitou o pepino de se tornar o sexto ministro da Defesa desde a criação da Pasta, e tomar para si a difícil tarefa de tentar domar o caos aéreo, que já se estende por dez meses e vitimou mais de 350 pessoas, nos dois maiores acidentes aeronáuticos da história do País. Pela alta cúpula do PMDB, partido ao qual é filiado, o nome de Jobim não passou. Esse contra-senso ajuda a explicar por que Nelson Jobim foi considerado o nome capaz de pôr fim no caos nos aeroportos. Jobim não é tucano. Sempre foi filiado ao PMDB, mas a sua independência com relação aos grupos que comandam o partido é tamanha que é inadequado tratá-lo também como peemedebista.

Jobim é Jobim. Um gaúcho de estilo duro, que não tem medo de dizer o que pensa, tido muitas vezes como arrogante, cioso da sua autoridade e com boas relações tanto junto ao governo Lula, que defendeu com unhas e dentes como presidente do Supremo Tribunal Federal, como com seus antecessores da era Fernando Henrique, a quem serviu como ministro da Justiça. É pela soma dessas características que Jobim assume a Defesa. O meio militar não tem restrições a ele, e pode se adaptar ao seu jeito mais direto e objetivo de ditar as ordens. As relações com a oposição, especialmente no PSDB, podem lhe conferir uma providencial trégua. Nos planos de Jobim, estão a substituição da direção da Infraero por outra de perfil mais técnico e a tentativa – não depende só dele, pois depende de regulamentação – de alterar as atribuições e características da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). A segurança é a prioridade: “Se o preço da segurança for manter as filas, ficarão as filas”, avisou.

 

 

 

 

 

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Jobim assumiu com a intenção de encontrar soluções. E não evitou sequer ser indelicado com seu antecessor, o ex-ministro Waldir Pires, que ouvia cabisbaixo no Palácio do Planalto o seu discurso de posse: “Nunca se queixe, nunca se explique, nunca se desculpe. Aja ou saia, faça ou vá embora”, disse ele, parafraseando o ex-primeiro ministro britânico Benjamin Disraeli (1804-1881). A verdade é que a escolha do nome de Jobim para a Defesa foi uma construção longa e exaustiva. A ministra do Gabinete Civil, Dilma Rousseff, chegou a temer que, se a coisa demorasse, Lula ficasse com pena de demitir Waldir Pires e “amolecesse”.

Na negociação, Jobim conseguiu algo que Waldir Pires nunca teve: carta branca para enfrentar a crise e solucioná- la. É uma carta branca relativa. Certamente, o novo ministro ainda se verá às voltas com restrições orçamentárias. Mas Jobim negociou condições mais favoráveis para dirigir a Pasta. Acertou que não manterá a descentralização do setor, que confere autonomia demais aos comandos das Forças Armadas e a estatais como a Infraero. Jobim terá o comando.

No sábado 21, Lula já resolvera demitir Waldir Pires. Sua substituição se complicou porque, num primeiro momento, Jobim recusou o convite. Estava criada a sinuca para o governo. O episódio da reunião de emergência sem a convocação de Waldir deixara o ministro em situação insustentável. Mas a alternativa a ele não se apresentava. Começaram a chover sondagens. O vice-presidente José Alencar foi convidado a voltar ao posto. Sua mulher, Marisa, e seu filho, Josué, impuseram condições: passando por problemas de saúde, ele só trabalharia meio expediente e teria para auxiliá-lo um secretário-executivo forte. “Isso mantém o problema”, reagiu a ministra do Gabinete Civil, Dilma Rousseff. Correu-se para o chanceler Celso Amorim, que recusou. Na terça- feira à noite, estava certo que o ministro da Defesa seria, então, Paulo Bernardo. Começaram a surgir sinais de que ele poderia ter problemas com o meio militar. “Ele não tem curso superior, tem nível de sargento”, chegou a dizer um oficial do Alto Comando da Aeronáutica.

 

 

 

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Enquanto Bernardo preparava- se para a eventualidade, insistia-se com Jobim. Foi acionado o ministro do Supremo, Gilmar Mendes, seu maior aliado no Judiciário. “Isso não é convite de governo, isso é missão de Estado”, insistiu Gilmar. O ex-deputado Sigmaringa Seixas entrou também no circuito com argumentos semelhantes. “Seria bom você conversar com a Adriane”, sugeriu Sigmaringa a Lula, referindo-se à mulher de Jobim, Adriane Sena. Lula não chegou a falar com ela. Jobim falou. Adriane retirou os obstáculos. Agora, é esperar que as desculpas e lamentações, como disse o próprio Jobim, sejam de fato substituídas por ações concretas. Se resolver a maior crise gerencial vivida pelo governo Lula, Jobim vira forte candidato a sucedê-lo. Só terá que consultar de novo Adriane Sena e saber se ela deixa.